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Amor rima com dor

Nadja Lira, jornalista, pedagoga, filósofa busca um entendimento incomum sobre o sentimento mais desejado pelos seres humanos e pelos outros animais.

*Nadja Lira

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O amor é um sentimento de muitas definições. De acordo com o Aurélio, o amor é um sentimento que predispõe alguém a desejar o bem de outrem; é sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro. Para o poeta Camões, o amor é fogo que arde sem se ver; é ferida que dói e não se sente. É um contentamento descontente. É dor que desatina sem doer.

Cada um, portanto, tem sua definição particular do que é o amor. Para mim, o amor é um sentimento que rima com dor, angústia, sofrimento e tragédia. Não o vejo como algo que traz alegria, felicidade e satisfação. Muito pelo contrário. As mais famosas histórias de amor são compostas por elementos trágicos envolvendo dor e sofrimento.

Um exemplo disso pode ser visto na história de Romeu e Julieta, cujo final não podia ser mais trágico: os dois amantes morrem e não podem viver seu grande amor. Outra história extremamente trágica é a de Abelardo e Heloísa, que vivem um amor proibido. Para deixar a história ainda mais dolorosa, um tio da moça, num acesso de loucura, castra Abelardo, que passa a viver confinado num mosteiro, pensando no amor que poderia ter vivido com Heloísa, mas foi impedido por causa da atrocidade praticada contra eles.

A história de Tristão e Isolda não é diferente. Os amantes são obrigados a viver separados apesar de morar sob o mesmo teto. Tristão acaba morto e Isolda com fama de adúltera.

A tragédia não está presente somente nas histórias fictícias de amor. Em nome deste sentimento, os pobres mortais também cometem muitas loucuras, tais: chorar em público, se humilhar e implorar para não serem abandonados. Em nome do amor, as pessoas perdem o orgulho, o amor próprio, se suicidam e ainda existem aquelas que matam em nome do amor.

Já faz algum tempo que a passarela ligando o Natal Shopping ao Via Direta em Natal, foi palco para o trágico fim de duas vidas, ceifadas em nome do amor. Inconformado com o final do romance, um bombeiro matou a namorada e depois se suicidou. Ambos eram muito jovens e tinham uma vida inteira pela frente, mas morreram em nome do amor.

Até hoje a internet comenta a história do jornalista Antônio Marcos Pimenta Neves, que assassinou a namorada também jornalista, Sandra Gomide, “em nome do amor” que sentia por ela. Foi condenado a 19 anos de prisão, mas permaneceu livre. Também foi em nome do amor que sentia pelo namorado, que Suzane Von Richtofen permanece presa, acusada de ter planejado o assassinato dos pais.

Diante de tantas tragédias, praticadas em nome do amor eu tenho a constatação de que este é realmente um sentimento muito estranho: ele faz uma pessoa tirar a vida do ser que jura amar. O amor tira o equilíbrio das pessoas, levando-as a tomar atitudes trágicas ou ridículas diante dos outros sem que isto afete a pessoa acometida da doença de amor.

Já fui acometida por tal doença e em seu nome também fiz coisas ridículas e cometi loucuras. Não cheguei ao extremo de matar alguém, mas confesso que por amor escrevi uma poesia em homenagem ao ser amado e mandei publicar num jornal de grande circulação no estado da Paraíba durante uma semana inteira.

Portanto, diante de tantas atrocidades que leio e vejo publicado nos noticiários do mundo afora, sendo pratica em nome do amor, confesso que este é um sentimento que me amedronta profundamente e não tenho outra alternativa, a não ser render-me ao fato: amor rima com dor.