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Antiga Profissão

Ex-procurador regional da República, recorre a uma clássica metáfora e compara a política à prostituição

Edilson Alves de França

O romancista, crítico e ensaísta francês, Remy de Gourmont, com exagerado desapreço, assegurou que a política de certa forma, poderia ser comparada à prostituição, motivo pelo qual os políticos: “deveriam começar bem na mocidade”. Segundo ele, assim não fazendo, “correriam o risco de não obter resultado algum” 1. Ou seja, não teriam tempo para amealhar rendimentos que lhes garantisse uma velhice tranquila e confortável.

Mais recentemente, Millor Fernandes2, sem deixar por menos e fazendo uso de sua refinada ironia, retirou a “vida fácil” do pódio da antiguidade profissional e a substituiu pela política, definindo-a como “a mais antiga das profissões”2. Antes e depois dele, outros críticos contrariam o conceito filosófico de política, aumentando a descrença e ampliando o deboche em torno daquela que já foi definida como a arte de bem governar ou, mais recentemente, como “processo social através do qual o poder coletivo é gerado, distribuído e usado nos sistemas sociais”.

Diante das inúmeras concepções demeritórias e influenciado por um noticiário jornalístico revelador, o cidadão já não tem como ignorar o lamaçal que escorre pelas encostas das inúmeras “marianas administrativas”, capazes de engordar lucros, em igual proporção ao de certas contas bancárias. Daí, o desabafo de muitos, no sentido de que detestam a política e desprezam os políticos, colocando estes últimos no mais baixo degrau da confiabilidade popular.

Evidentemente esse desapreço generalizado, embora venha se tornando incontido, passa distante das ideias platônicas e aristotélicas, voltadas para a política como fenômeno social de relevante importância. Foge-se, assim, de uma compreensão da política como algo fundamental para o homem do povo, para os governantes e para a própria nação, confundindo-se, assim, a arte platônica com o exercício pessoal da “politicalha”. Entendida esta como prática menor, inescrupulosa, desonesta ou depreciativa da atividade política.

Dentro desse contexto, em homenagem aos políticos sérios, honestos e preparados que persistem no bom combate, não custa lembrar que o homem se constitui animal político e, como tal, necessita conceber a vida política como atividade da qual precisa participar. Até porque não há como obscurecer a natural relação existente entre o povo e o poder, principalmente, no que tange às condições e forma como esse ou aquele governo se constitui e é exercido. Impõe-se, portanto, que todos nós fiquemos de olho nas suas ações, particularmente, na natureza, validade, teor e cabimento de suas decisões e iniciativas.

O homem, como já dito e repetido, encontra-se fadado a viver numa sociedade politicamente organizada e, dentro dessa concepção clássica, cabe-lhe escolher entre mantê-la sobre seu pedestal platônico ou aceitar, passivamente, seu caminhar para o inferno de Dante, ao som do coral da politicalha.

1 – In Dicionário da Sabedoria, NINA, Aldo Della. Editora das Américas S/A. SP, Vol. 4, p. 246

2 – Millor Definitivo, A Bíblia do Caos, FERNANDES, Millor. Ed. L&PM Pocket, Porto Alegre-RS, 6ª Edição, p. 441

Edilson Alves de França, ex-procurador regional da República, ex-subprocurador-geral da República e professor de pós-graduação em direito na UFRN, é autor do livro “Teoria e Prática dos Prazos Eleitorais” (FeedBack; 350 págs.; 2014).