*Da Redação
CARTA ABERTA
Natal, 05 de janeiro de 2022
Ao colunista Fábio de Oliveira
Em um artigo publicado no Potiguar Notícias e em várias redes sociais, Reinaugurações “culturais”: símbolos coloniais e genocidas, o colunista Fábio de Oliveira, ao comentar sobre as reinaugurações de monumentos e prédios históricos do Rio Grande do Norte, tece algumas palavras pouco lisonjeiras ao nosso grande imortal Câmara Cascudo e aos monumentos e prédios reinaugurados e revitalizados no atual governo de Fátima Bezerra.
Em 2021, a Governadora Fátima Bezerra reinaugurou espaços importantes para a preservação da nossa história e, consequentemente, das nossas raízes. O Teatro Alberto Maranhão, o Forte dos Reis Magos, a Biblioteca Câmara Cascudo e a Pinacoteca foram reabertas, após investimentos que reformaram cada um desses espaços, espaços que fazem parte da memória histórica e afetiva de nosso povo.
Tais edificações contêm, cada uma delas, a marca de nossas raízes ancestrais portuguesas e, no caso da Biblioteca Câmara Cascudo, ainda leva o nome do maior intelectual potiguar, um dos maiores do país, cuja obra, vasta, é uma declaração de brasilidade em qualquer aspecto. Não se pode dizer que se conhece o Brasil e sua gente sem ter lido Câmara Cascudo. A obra cascudiana inscreve-se nessas obras monumentais que dialogam com o popular, com o erudito, com a História e com as raízes primevas de seu povo. O Brasil está em Cascudo.
Foi, pois, com grande estranheza que li esta frase do colunista, ao se referir à biblioteca: “a biblioteca que leva o nome de um pseudointelectual que contribuiu de todas as formas para o apagamento de nossas especificidades étnicas e raciais”. Isso é desconhecer a obra de Cascudo.
Cascudo não é um pseudointelectual. Ele é o maior Mestre e estudioso da brasilidade. E a obra de Cascudo é um resgate e um louvor ao brasileiro, à nossa alma brasileira!
Evidentemente que ataques iguais a esses, com tais palavras inadequadas, contra o maior símbolo da literatura potiguar não desmerecerão sua obra e nem sua importância para o Brasil, porém deve haver sim, haver uma resposta ante eles. Porque é preciso lembrarmos que a tradição é importante. E Cascudo encarna perfeitamente a tradição do rigor, do cultivo e do apresso ao que é nosso, ao que é brasileiro e em especial, ao que é potiguar. Eu tenho esse sentimento: o Rio Grande do Norte apagar-se-ia em grande parte sem o sol que é Cascudo. Devemos a Cascudo respeito e admiração por sua obra, obra de um brasileiro sobre o Brasil.
E o Brasil, caro Fábio, é português, africano e indígena. Não podemos entender esse país sem que se admita isso. Nenhuma herança é menor. E assim como há potiguares que têm pertencimento africano ou indígena, há potiguares que têm pertencimento português. Sendo assim, toda a preservação da memória dessas três raças é importante, e Cascudo, mais do que qualquer outro brasileiro, cuidou de desbravar esse Brasil. E desbravou.
Considero importante a emergência de autores de talento indígenas e negros, que somarão seus estudos aos de Cascudo, por exemplo. Mas não vejo como entender o país e sua cultura desconsiderando um homem como Cascudo. Isso não é producente. Os novos estudos precisam dialogar com a tradição e não tentar diminuí-la com palavras que o peso histórico da tradição torna vãs.
Um outro momento importante do artigo do colunista, Fábio de Oliveira, lamenta que a verba usada nas restaurações dos monumentos e prédios supracitados não foram usadas para o fomento da cultura indígena. Caro Fábio, há verbas que são destinadas especificamente a projetos já pré-determinados. Tais verbas não podem gerir outras políticas públicas. Imagino que as verbas usadas nessas restaurações sejam montantes desse tipo. Além disso, quando mencionas a respeito de demarcações de terras indígenas, isso não é unicamente, e nem mesmo especificamente, dever do governo estadual. É federal. E, conforme sabemos, nem mesmo os governos federais petistas, tão favoráveis às questões indígenas, conseguiram demarcar terras aqui no Rio Grande do Norte. É uma questão antiga que permanece.
Caro Fábio, leia Cascudo. Você descobrirá toda a riqueza que há na terra de Poty e em Pindorama. Isso somos nós, o Brasil.
Saudações cordiais,
Francisco Alexsandro Soares Alves.