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Artista no mau sentido da palavra

Secretário de cultura de Natal boicota por mais de 15 anos um segmento que só prestigia artistas oriundos de outros estados, ganham bem e recebem no dia, enquanto os locais comem migalhas e farelos do pão que os prefeitos locais amassaram.

*Franklin Jorge

Quando nos anos de 1970 fui morar no Rio de Janeiro, a jornalista Anna Maria Cascudo Barreto, que assina a coluna Artemodas em A República, pediu-me que realizasse algumas entrevistas com figuras da nossa terra ali radicadas. Entre elas, o maître graveur Rossini Quintas Perez, nascido em Macaiba, então considerado e visto pela critica francesa como um expoente em seu gênero.

Morava Rossini numa ruazinha enladeirada na rua Gastão Baiana, 58, nos confins de Copacabana. Uma curiosa habitação que mal comportava sua copiosa produção estética e algumas lembranças de suas vivências do continente africano, onde lecionou técnicas de gravura por diversas vezes, como enviado do Itamaraty. Ficamos amigos até a sua morte, apesar das intrigas feitas pelo nosso malfadado secretário de cultura, que falava em nome do prefeito Carlos Eduardo Alves, que silenciou diante de um inominável crime de lesa-cultura, ao dificultar a doação, por indicação minha, do valioso acervo do artista à cidade De Natal.

A princípio, Rossini decidira que seu acervo iria para a instituição que eu indicasse, conforme várias castas que me dirigiu no curso dos anos. Queria prestigiar meu esforço de contribuir para o enriquecimento do acervo cultural da nossa cidade. Com o surgimento do Instituto Tavares de Lyra, em Macaiba, onde ele nascera, Rossini pensou doar parte do acervo àquela instituição, mas eu o dissuadi, resultando disso um Grande prejuízo para a cultura potiguar, posto que o Acervo acabou permanecendo no Rio de Janeiro, que já ganhara 160 obras que comporiam uma ala do Museu Nacional à avenida Rio Branco, no Centro histórico da chamada “Cidade maravilhosa”. O secretário de cultura de Natal, Dácio Galvão, boicotou a doação, para que o meu nome não aparecesse como o intermediário dessa negociação do conhecimento do prefeito de Natal, que fez vista grossa a um fato de tamanha relevância. Para mim foi a primeira e a maior de minhas decepções do prefeito Carlos Eduardo Alves, que me pareceu um homem de caráter questionável, manipulado por um secretário que era apenas um reles fumador de maconha que pagava com recursos públicos, inaugurando dessa forma uma nova maneira de se praticar a corrupção. Algo digno de figurar NO Dicionário da Corrrupção n o Brasil, em elaboração pelo Procurador Regional Federal da República já aposentado Edilson Alves de França.

A verdade é que o ex-prefeito dera carta branca ao secretário de cultura de Natal, algo que ele fez com engenho e mérito a ponto de desmoralizar o próprio prefeito que mais investira em cultura junto aos artistas locais, que passaram a podia-lo . como o holandês, Carlos Eduardo pagou pelo que não fez, embora não deixe de ter sua parcela de culpa – uma grande parcela de culpa  –  ao não fiscalizar as ações de seu preposto em segmento tão complexo e de difícil administração. Dácio sobrevive, desde então, há mais de 15 anos, subornando e corrompendo artistas vulneráveis para manter-se no comando da cultura local. Todos os seus erros e desacertos eram descaradamente atribuídos ao prefeito Carlos Eduardo, contra quem tinha sempre um argumento capcioso na ponta da língua. Ora, prometera fazer algo sem dispor de recursos; ora prometera mesmo para faltar; ora não estava nem aí para a cultura, fazendo de Dácio saco de pancadas para os artistas que não queriam entender que ele, Dácio, como os artistas, também era vítima de um prefeito dado a conversas fiadas… E ali estava Dácio, fiel ao prefeito, para levar em seu lugar desaforos e palavras mal ditas. Um verdadeiro artista, portanto, no mau sentido da palavra.

Mas voltemos as Rossini, cujo acervo valioso e único a cidade definitivamente perdeu, graças a Dácio Galvão, que ainda não respondeu por crime de tamanha responsabilidade, ele e sua gangue encastelada na Funcarte e na Secretaria de Cultura do município. Protegido por gente poderosa e de guarda-chuva aberto aos seus apetites, escapará incólume por séculos e seculurum.

Creio que, pelo menos pelo prejuízo que causou à cidade, boicotando as doações Rossini Quintas Perez, devia ser criminalizado e responder na justiça por crime de lesa-cultura. O mesmo quanto às doações que Frans Krajcberg e os herdeiros de Ruth Palatnik Aklander pretendiam fazer à cidade de Natal por meu intermédio.