*Margarita García
Recentemente me convidaram para uma festa de artistas e aceitei encantada, apesar de que a palavra artistas -em abstrato- é um rótulo que pode encontrar-se facilmente em meu arquivo geral de preconceitos.
Porém os artistas me caem bem, não me interpretem mal; e quando digo artistas sou genérica e me refiro a qualquer um que creia no direito de autodenominar-se dessa forma. Na festa abundavam os autodenominados: “Olá, meu nome é João, sou artista”. “Olá, João”, respondiam em uníssono os outros artistas.
Alguns vestiam camisetas com inscrições como A arte morreu e ressuscitou em mim. E estava também essa garota de peitos generosos com uma camiseta que dizia em letras garrafais: A arte sou eu.
Nessa noite alguns artistas consideraram despropositado meu primeiro preconceito sobre os artistas: que são pessoas cheias de vivencias tão fabulosas que sentem permanentemente a necessidade de comparti-las com o resto; melhor dito: que sua atitude diante de sua própria vida é tão saudável e generosa que só muito raramente falam de outra coisa.
“É verdade”, riram escandalosamente. Logo me explicaram que isso que algum desorientado poderia eventualmente interpretar em certos artistas como ser muito [pagado] de si mesmos era na verdade uma virtude que consistia em discordar do ego como um elemento susceptível de ser controlado. E que de nenhuma maneira um artista deve controlar seu ego, porque um artista enquanto exerce o oficio de falar de si mesmo está alimentando-se, dispondo de sua alma sensível para criar, fazê-la crescer e torna-la mais bela. É algo assim como fazer exercícios abdominais. Eu respondi que achava tudo muito claro, e que isso explicava por quê, em seu processo criativo ou mal chamado palavrório, certos artistas não discriminavam entre o relato anedótico de interesse geral e aquele que escassamente poderia interessar a suas mães. “E assím, absolutamente”, voltaram a rir, me deram palminhas nas costas, tão fortes que quase me desequilibrei e me sentí de fato uma artista da lucidez porque me estava entendendo satisfatoriamente com meus anfitriões. Assim foi como, estando tudo tão claro, os artistas deixaram de falar-me e urdiram um círculo mais íntimo; eu decidí sentar-me sozinha e desfrutar a meu modo do show de um jovem DJ que misturava música oriental e que recém havía escrito una novela – pouco vendida porém muito bem recebida pela crítica – sobre a vida um jovem DJ, que também era escritor, porém que, antes que mais nada, preciso dizê-lo, era um artista.
- Publicado originalmente no diário A Crítica, de Argentina