*Richard Wagner (1813-1883)
O contexto histórico do surgimento do texto abaixo, foi uma invasão que um grupo de sociais-democratas alemães perpetrou em um laboratório. Lá, animais eram mantidos nas condições mais desumanas e sob tortura extrema. Vários agonizantes ou mortos. O laboratório foi inteiramente destruído e os animais que ainda viviam, resgatados. A ação foi classificada como ato heroico por uns e como vandalismo e crime por outros.
Como a presença de animais nos dramas wagnerianos era uma constante, foi pedida a opinião do mesmo sobre o assunto. Um dos invasores, Ernst von Weber, relatou pessoalmente a Wagner toda ação no laboratório. E este, que sempre amou os animais, não pode deixar de tomar partido a favor dos invasores. Além disso, a doutrina budista e a filosofia de Schopenhauer a tempos dialogavam no espírito do compositor e em ambas, a compaixão pelos animais é o cerne de uma visão de mundo oposta a um progresso desenfreado e irracional.
Na série de artigos, vários temas emergem: vivissecção, violência, domesticação, progresso, entre outros. Retiro deles alguns parágrafos sobre a questão da domesticação e respeito à vida animal. Seguem abaixo:
“(…) Esta observação poderia nos ensinar da maneira mais segura, de acordo com o espírito de nosso século sem fé, a indicar com precisão infalível nossas relações com os animais e, talvez, esta seria a única maneira de chegarmos à verdadeira religião, a do amor e da natureza, da humanidade (…) Tal prática é tão incomparavelmente difícil para nós, escravos da civilização. Porque, até agora, usamos animais não só para nos alimentar e servir, mas também para descobrir, através do sofrimento que lhes causamos, as curas para doenças que nós mesmos provocamos e sofremos quando nossos corpos são corrompidos por uma vida que não se conforma à natureza, devido a toda espécie de excessos e vícios (…).
Nosso amigo Plutarco já nos deu um exemplo disso. Ele teve o gênio de escrever um diálogo entre Odisseu e seus companheiros, transformados em feras por Circe, no qual eles se recusam a se metamorfosear novamente em homens, citando as razões mais persuasivas. (…) A verdadeira vitória só pode ser esperada se o homem voltar a tomar consciência, graças ao animal, de sua nobre natureza (…).
Poder-se-ia supor, ao contrário, que o animal se deixaria conscientemente e voluntariamente ser torturado e atormentado por seu dono, se pudesse ser levado a entender que a saúde do homem, seu amigo, está em jogo. Isso não quer dizer muito; Isso pode ser percebido se observarmos que cachorros, cavalos e quase todos os animais domésticos e mansos só são adestrados quando entendem as razões pelos quais os domesticamos. A partir do momento em que o compreendem, sempre o cumprem de bom grado. Pessoas brutas ou imbecis, por outro lado, acreditam que é preciso manifestar sua vontade por meio de punições cuja intenção o animal não entende e que interpreta mal. E isso, como consequência, gera novos maus tratos que talvez fossem úteis se fossem aplicados ao dono que conhece o significado da punição. No entanto, não diminuem o amor e a fidelidade que o animal, tratado de forma tão insensata, testemunha ao seu carrasco. Um cachorro, mesmo em meio à dor mais violenta, pode ser acariciado por seu dono . (…) Seria bom meditarmos no que já sabíamos sobre os animais e nas lições que ainda poderíamos aprender.”.