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Ascendino e o Jornalismo

Mestre do jornalismo paraibano, já falecido, continua a exercer o seu papel de “mestre dos que sabem”, segundo Virgílio disse de Aristóteles.

*Franklin Jorge

Recorda-se o mestre Ascendino Leite [Piancó, 1915-João Pessoa, 2010] de um tempo em que a imprensa nacional se pautava por dois tipos de jornalismo e, consequentemente, de jornalistas. Atualmente, com o compromisso ético desmoralizado pelo afã dos negócios, do lucro obtido às vezes em desfavor dos leitores, predomina apenas um desses tipos de imprensa, o que explica sem dúvida a má qualidade do que é publicado, especialmente na imprensa provinciana, sempre sujeita à publicidade dos governos que em grandes jornais, como a Folha, o Estadão, por exemplo, é minoritária em relação à publicidade dos grupos privados. Exceto sob o regime petista.

Ei-los, pois, esses dois tipos de jornal e de jornalistas, explicados pelo grande estilista paraibano, autor de um infinito e imprescindível “jornal literário” que raia o infinito:

Dos jornais, o primeiro era feito para as necessidades primárias, dos fatos que constituíam a notícia e que servia, sem opinar, aos interesses do leitor intelectualmente mediano e pouco exigente, impondo-se assim ao gosto popular – quase sempre – pelo sensacionalismo.

O segundo tipo comprometia-se essencialmente com valores culturais, de povo e de elites, defendendo uma opinião sempre política à serviço de uma classe, segundo um padrão que granjeava para si certa projeção de respeitabilidade e de poder de influência.

Nesse tipo de imprensa militavam os articulistas que lhes dava uma personalidade característica, uma autoridade de opinião, enfim, uma confiabilidade de que carece, em sua maioria, os jornais atualmente em circulação, quase sempre caudatários de grupos e de interesses que, por sua natureza, contrariam os interesses dos próprios leitores.

Quanto aos jornalistas, os do primeiro tipo caracterizavam-se pelo fato de serem desprovidos de opinião, não passando de meros tarefeiros devotados a noticiar e informar os fatos secamente e sem considerações pessoais; enquanto os do outro tipo, geralmente providos de estilo e cultura humanística, interpretavam e comentavam a noticia, firmando-se, por sua confiabilidade, em orientadores ou referencias para os leitores em busca da essência dos fatos e de sua correlação com a realidade nem sempre visível da superfície.

Considerando-se o que nos diz Ascendino, do alto de sua cátedra, prevalece atualmente uma imprensa e um jornalismo do primeiro tipo, sem nobreza e sem distinção, à serviço não do Conhecimento, mas da informação que se esgota na mera leitura dos tópicos, quando não apenas, meramente, com o veículo de anúncios ou de anunciantes que querem vender a todo custo ou impor sua opinião ou ideologia. A do segundo tipo, representante de uma cultura baseada no humanismo e na ética, tornou-se paulatinamente um raríssimo artigo de luxo.

Franklin Jorge Fundador de Navegos, escritor, jornalista, editor de Feedback.

O último grande escritor de sua geração.