*Cleudo Freire
Estamos vivendo um momento bastante particular em função da rapidez com que evoluem as novas tecnologias. É como se tivéssemos que nos adaptar à uma nova realidade a cada ano, onde a relação com o tempo, a quantidade de informação e a incerteza do porvir, nos obrigassem a lidar constantemente com o desconhecido e a eficiência na produção. Em contrapartida, a nossa rotina não nos permite tal desempenho, tão grande é a escassez de tempo, as demandas emocionais e a exaustão demanda física.
Estes padrões opostos, têm causado forte impacto na aprendizagem de crianças, jovens e adultos em toda parte, sobretudo em função do acréscimo de estresse e ansiedade. Necessitamos encontrar uma resposta adequada para esta situação, que nos ponha par e passo com a realidade e nos permita, encaminhar soluções possíveis para que continuemos a produzir conhecimento sem perder de vista a qualidade de vida e a noção de que aprender é um processo de autoconhecimento.
Há muitas coisas importantes na vida, mas algumas são fundamentais, pois sem elas, não nos realizamos como pessoas. Uma delas, o autoconhecimento, é básico à condição humana e está diretamente ligada à nossa capacidade de tomar decisões, de fazer escolhas e empreender para realizá-las, tornando realidade os nossos sonhos. Quanto mais nos conhecemos, quanto mais conseguimos distinguir aquilo que é nosso daquilo que é do outro, maior a possibilidade de fazermos escolhas adequadas para nós mesmos. Contudo, diariamente somos impelidos a não voltar o olhar para nós mesmos, de tanto que nos é imposta a condição de observadores num mundo feito para as massas e de tanto que nos é imposto o papel de receptores num mundo delivery. Olhamos o mundo que não ajudamos a construir, comemos o bolo, mas não botamos a mão na massa, recebemos tudo pronto, sobretudo no que diz respeito aos conhecimentos necessários para uma boa escolaridade.
Mas isso não é tudo. Não é só a escolaridade que se torna deficitária, sobretudo é a humanidade que se precariza, pois a cada dia que passa, o que se vê é a educação se distanciando daquilo que lhe justifica, da sua origem, a natureza humana.
O que quero dizer com natureza humana aqui é a curiosidade que leva à ação de experimentar e possivelmente a comemoração com o sucesso da descoberta num moto perpétuo que nos faz sobreviver há milhares de anos a despeito da extinção de outros animais aparentemente bem mais fortes que nós.
O que estamos fazendo com os nossos filhos é tudo que no fundo não desejamos para eles. De fato, se pensarmos bem, gostaríamos de conviver mais e melhor com eles, gostaríamos de vê-los felizes indo pra escola e não insatisfeitos ou desmotivados. Gostaríamos de vê-los participando mais ativamente da vida social, desfrutando de mais lazer e também de um melhor desempenho evidentemente. Porém, como realizar tudo isso com tão pouco tempo que lhes restam depois de uma jornada diária de escola e estudos exaustivos em casa no contraturno? Como aprender a fazer boas escolhas, diferenciar o que é urgente do que é prioritário, se temos que corresponder com tanta eficiência a cobranças externas num dado espaço de tempo?
Por sinal, o que urge mesmo é a necessidade de escolhermos o modelo adequado de educação para os nossos filhos. Digo adequado porque não seria o caso de se estabelecer noções de certo ou errado, melhor ou pior. Mas, aquele que é coerente com os valores e objetivos da cada família, que mais se aproxima dos ideais de um grupo ou indivíduos com poder de escolha.
Isso pode parecer irrelevante, entretanto, faz toda a diferença no desempenho e no desenvolvimento saudável do estudante. O que estou dizendo é que aprender é saber fazer escolhas, saber lidar com assertivas e distratoras, com a hipótese e seu refutatório de forma consciente, sabendo o que sabe e reconhecendo aquilo que precisa melhorar.
Estamos de frente da necessidade de mudarmos nosso comportamento como professores para lidarmos com pessoas aprendentes e não apenas com alunos. É necessário ensinar a aprender, equilibrando as habilidades produtivas e reprodutivas dos estudantes, para um melhor desempenho, melhor qualidade de vida e melhor realização pessoal de forma que o conhecimento seja para valorizar a humanidade.
Pois bem, há essencialmente dois modelos de educação vigentes atuando em paralelo, aquele que te ensina a reproduzir saberes acumulados e aquele que te leva a produzir e reproduzir conhecimentos. O primeiro, reprodutor, se baseia na repetição e prevalência de conceitos, na memorização de conteúdos preestabelecidos, professados em aulas expositivas para massas passivas. O segundo, se baseia na experimentação antes da conceituação, explorando os mais variados processos cognitivos em aulas discursivas-vivenciais com o intuito de promover o desenvolvimento global da pessoa, para turmas e indivíduos participativos.
Escolher a alternativa adequada é uma ação que pode ser definitiva no sucesso escolar dos nossos filhos, sabendo que estamos construindo destinos de forma mais consciente e com um pouco mais de ponderação, pois o futuro, a ninguém pertence.
A despeito da escolha, no presente, necessitamos nos aproximar cada vez mais da humanidade e formar pessoas aprendentes.
Cleudo Freire, Pedagogo, especialista em educação e músico.