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Autoridades tratam com indiferença e descaso patrimônio cultural

laborador de Navegos reage ao descaso das autoridades para com a preservação de prédios e acusa desabamento de prédio na Rua Chile, onde teria funcionado em 1904 um armazém de secos e molhados e, posteriormente, algumas décadas depois, a  Boite Arpége, um dos bordéis mais famosos da Natal antiga.

*Sandemberg Oliveira

No último dia 21 de junho, assistimos a uma reportagem acerca do desabamento de uma antiga construção histórica de Natal, mais precisamente na Rua Chile, no bairro da Ribeira. O imóvel, construído por volta de 1904, data que o coloca na condição de patrimônio histórico, que abrigou no seu passado um armazém e uma casa noturna, mas que já havia sido interditado pela Defesa Civil porque corria o risco de desabar, não resistiu ao abandono nem mesmo a incompetência dos órgãos públicos responsáveis pela gestão cultural de nosso Estado, literalmente, tombou.

Em sua história, sendo um casarão do início do século XX, também chegou a abrigar o armazém Secos e Molhados, em seguida fora a sede de uma gráfica e palco da casa noturna “Arpege”. Mas aí vieram os acontecimentos pelos quais passou a servir de palco este prédio. Foi simplesmente cenário para gravação dos filmes “For All – O Trampolim da Vitória”, como também do filme “O Homem que Desafiou o Diabo”, do escritor potiguar Nei Leandro de Castro. Não fosse o prédio antigo, estes últimos ocorridos já o colocariam na condição de se tornar um lugar para quiçá um museu da cinematografia do RN, algo que não dispomos, mas não, ninguém pensa nisso porque não há interesse em resgatar nossa memória cultural. Há um total descaso quanto a isso.

Não obstante, segue a notícia de que o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, a instituição mais antiga do Estado, por decisão da sua Diretoria, vem apresentar o seu integral apoio à homenagem a ser prestada ao “grande industrial” Nevaldo Rocha, na dimensão da sua própria história de vida, pessoal e empresarial, colocando o seu nome no Distrito Industrial de Natal, localizado na BR 101, entre os municípios de Extremoz e Ceará-Mirim. Segundo o documento apresentado pela instituição, em sua justificativa, alega que essa providência vem ao encontro de todos os segmentos da sociedade potiguar nas manifestações a favor de uma grande e justa homenagem, mas não recordo ter lido ou mesmo visto qualquer tipo de consulta pública sobre essa suposta homenagem, quando na verdade o que mais parece é que a velha política do toma lá dá cá envolvendo gestores públicos e empresários ainda comanda setores, numa verdadeira falta de respeito para com a nossa memória. O que se alega é tão somente o fato do então empresário Nevaldo Rocha ter sido responsável por uma parte substancial da arrecadação do Estado e abrigo de outra leva de atitudes sociais, oferecendo empregos para sua população.

Vamos por parte, em primeiro lugar a contribuição significativa do Empresário no âmbito econômico foi sim muito satisfatória, mas não vamos esquecer que tivemos vários desempregados ao perdermos para o Ceará, numa atitude do mesmo, grande parte de nosso setor de produção têxtil foi deslocada para o Estado vizinho. Outrossim, sabemos do vigor em colocar o nosso Estado e Município no patamar de uma cidade que vislumbrasse o olhar do estrangeiro, mas vamos considerar que houve um grande e significativo apadrinhamento do Estado no que diz respeito a impostos e outros benefícios cedidos ao empresário. Por fim abdicar dos ensinamentos do nosso mestre folclorista maior, Luís da Câmara Cascudo, quando em seu livro NOMES DA TERRA, nosso mestre já nos alertava para que respeitássemos os nomes dos lugares velhos, posto que se um lugar é novo, então que se coloque um nome novo, agora desmerecer os mais de 40 (quarenta) anos de história que a Avenida Senador Salgado Filho tem, não é papel de uma instituição que se diz cuidadora de nossas memórias, muito menos de um prefeito que começou seu pleito contemplando projetos culturais, mas que agora resolve atender aos pedidos dos empresários, quando mesmo em tempos de pandemia, priorizou o empresariado adotando flexibilidade no comércio a condenar vidas e famílias que sofrerão esse processo.