*Roland Barthes
Como a escrita não é uma atividade normativa ou científica, não posso dizer por que ou para que se escreve. Só posso listar as razões pelas quais escrevo:
1) por uma necessidade de prazer que, como se sabe, está relacionada ao encanto erótico;
2) porque a escrita descentra a fala, o indivíduo, a pessoa, realiza um trabalho cuja origem é indiscernível;
3) colocar em prática um “dom”, realizar uma atividade diferenciada, fazer a diferença;
4) ser reconhecido, gratificado, amado, discutido, confirmado;
5) cumprir tarefas ideológicas ou contra ideológicas;
6) obedecer às ordens estritas de uma tipologia secreta, de uma distribuição combativa, de uma avaliação permanente;
7) agradar amigos e irritar inimigos;
8) contribuir para quebrar o sistema simbólico de nossa sociedade;
9) produzir novos significados, ou seja, novas forças, apreender as coisas de uma nova maneira, minar e mudar a subjugação dos sentidos;
10) por fim, e como resulta da deliberada multiplicidade e contradição destas razões, destruir a ideia, o ídolo, o fetiche da Determinação Única, da Causa (causalidade e “causa nobre”), e assim creditar o valor superior de uma atividade pluralista, sem causalidade, finalidade ou generalidade, como é o próprio texto.