*Emil Cioran
Há uns anos, ao encontrar-se por acaso na rua, perguntou-me se eu trabalhava, e respondi-lhe que tinha perdido o gosto pelo trabalho, que não sentia necessidade de me exprimir, de “produzir”, que escrever foi uma tortura para mim… Ele pareceu surpreso, mas eu fiquei ainda mais surpreso quando, justamente sobre escrever, ele me falou de alegria. Você usou exatamente essa palavra? Tenho certeza. Nesse momento lembrei-me que durante nosso primeiro encontro, na Closerie de Lilas, no início dos anos sessenta, ele me confessara seu grande esgotamento, sua sensação de que não conseguia mais extrair nada das palavras.
Palavras, porém, quem as amou tanto quanto ele? Eles são sua única companhia, seu único apoio. Beckett, que não autoriza nenhuma certeza, está firme no meio deles. Seus acessos de desânimo coincidem sem dúvida com os momentos em que deixa de acreditar neles, quando imagina que o traem, que fogem dele. Palavras ausentes, permanece despojado, desaparece. Lamento não ter anotado e enumerado todos os lugares de sua obra onde fala sobre eles, onde os examina como “gotas de silêncio através do silêncio”, como os chama em El Innombrable. Símbolos de fragilidade transformados em alicerces indestrutíveis.
Emilio Cioran
Algumas reuniões com Beckett