*Alexsandro Alves
A menos beethoveniana das sinfonias de Beethoven, a Sinfonia n.º 8, em Fá Maior, op. 93, estreou em um concerto na Sala Redouten, em Viena, em 27 de fevereiro de 1814. Nesse concerto também estavam presentes a Sinfonia n.º 7 e a Sinfonia da Batalha, peças que haviam conquistado o público e a crítica. Se a inclusão dessas obras já conhecidas, sobretudo a Sinfonia da Batalha, por um lado serviu para atrair o público e lotar a sala, por outro, também condenaram a obra que estreava.
A audiência se entusiasmou mais pelas obras já conhecidas do que pela nova. A crítica também.
A Oitava é um mundo diferente do de Beethoven. Após sinfonias tão inovadoras, “revolucionárias”, como Beethoven e seus amigos gostavam de afirmar, ouvia-se, com a op. 93, uma música que remetia às sinfonias mozartianas e, mais ainda, às de Haydn. A obra é clássica até na duração: é a mais curta das sinfonias beethovenianas, dura 24 minutos apenas. É o tempo tradicional de uma sinfonia clássica e é, também, o tempo do quarto movimento da futura Nona.
É a mais bem-humorada peça sinfônica de Beethoven – é leve, absurda e cômica em muitos momentos.
Esse momento de Beethoven, embora que sua depressão nunca o tenha deixado e sua surdez avançasse, é de felicidade, no geral. A sinfonia começa graciosa, o primeiro movimento faz parte de um concerto para piano que ele não concluiu e resolveu reaproveitá-lo. O segundo movimento, com seu “tique-taque”, lembra a Sinfonia n.º 101, em Ré Maior, de Haydn (conhecida como Sinfonia do Relógio), e seu tempo, apenas 3 minutos e 57 segundos, lembra Mozart.
A jovialidade da música é quase um convite ao Classicismo, em pleno século XIX.
O terceiro movimento é um minueto, coisa que Beethoven já havia esquecido e superado. Parece que ele abandona a música enquanto tragédia e épico, e trata com mais benevolência sua própria arte. O quarto movimento dá uma sensação de que se chega ao final apressado. O tema principal é interrompido por silêncios, a nota errante de Dó Sustenido reaparece, ela tinha feito sua aparição no primeiro movimento.
A escala de Fá Maior compreende as notas: Fá, Sol, Lá, Si Bemol, Dó, Ré, Mi e Fá. Não há sustenidos.
O único acidente que ocorre é um bemol, na nota Si. Não que Beethoven não tenha feito isso em obras anteriores. Fez até mais que isso. Mas sempre havia uma explicação, um sentido. Na Oitava, simplesmente a nota surge e nada gera. É simplesmente jogada e esquecida, para depois ressurgir e novamente desaparecer. Parece um bêbado em uma festa tropeçando em todo mundo. Beethoven satiriza a si próprio e a sua arte.
onforme mencionado acima, a peça dura 24 minutos, divididas em quatro movimentos:
“Allegro vivace e con brio” – “Rápido vívido e com brilho”; “Allegro scherzando” – “Rápido brincando”; “Tempo de Menuetto” – “Tempo de minueto”; “Allegro vivace” – “Rápido vívido”. Há a predominância de andamentos rápidos – na verdade, não há nenhum adágio ou andante ou largo – os andamentos lentos mais utilizados. É uma peça cheia de alegria, euforia e descompromisso. E, embora ninguém acreditasse, Beethoven dizia que a Oitava era melhor do que a Sétima.
Paavo Järvi dirige: https://www.youtube.com/watch?v=9-f3iKeUJm4&ab_channel=deepnosepicker