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Beethoven? Negro?

Nunca foi novidade ou estranheza para quem já leu alguma biografia do mestre de Bonn: a cor de sua pele não era branca.

*Alexsandro Alves

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Ludwig van Beethoven causava tensões nos salões vienenses por muito aspectos de sua aparência e personalidade. Arrogante, por vezes estúpido, sentia um prazer mordaz em destratar aqueles que o ajudavam, como por exemplo suas falas levianas contra Joseph Haydn, seu professor; juntamente com Mozart, os três formam uma espécie de trindade da música clássica, sendo Haydn o elo entre os dois – pois foi professor também de Mozart, este dedicou-lhe seis quartetos de cordas, os K. 387, 421, 428, 458, 464 e o 465. Quando Haydn viajou para Londres, onde seu irmão Michael já fazia muito sucesso, Haydn desejou muita prosperidade para seu maior aluno, mas Mozart, triste, disse: “nós nunca mais nos veremos”. E assim foi, algumas semanas antes do retorno de seu professor, Mozart morria e era enterrado em uma vala comum, até hoje desconhecida.

Mesmo que toda a cidade de Viena soubesse das aulas de Beethoven com Haydn, o que transparecia na evolução de seu refinamento composicional, Beethoven afirmava para todos: “eu nunca aprendi nada com aquele velho!”.

A aparência de Beethoven também causava constrangimento. Ele fazia questão de se vestir à moda dos franceses revolucionários, recusava usar perucas, mas tinha um cabelo horrível e desajeitado; sua pele, grossa, de rosto firme cheio de riscos causava assombro por mais duas características: seu nariz era chato e grosso… E sua pele não era aquela pele de pó de arroz dos salões da corte ou burgueses. Nas biografias sempre são colhidas algumas observações sarcásticas sobre o tom escuro da pele dele: o chamavam, inclusive, de mouro. Por volta de 1793, o padre superior de Viena na época e pianista virtuoso, Joseph Gelinek, em uma conversa com o pai de Carl Czerny, pianista e compositor, disse que fora desafiado por um jovem estrangeiro rude para um duelo de piano: “vou dar um jeito nele”, disse o padre.

“E o que houve?”, perguntou o velho Czerny.

“Aquele jovem tem conluio com o Diabo! Nunca vi nem Mozart improvisar como ele!”

“Qual o nome dele?”

“É um jovenzinho pequeno, feio, de pele escura e parece ser muito obstinado… O nome dele é Beethoven.”

O tom da pele sempre era observado. Mas era escura em comparação com a pele branca dos vienenses. Ao que tudo indica, a cor exata da pele de Beethoven era morena. Um marrom marcante, porém claro. De qualquer forma, para Viena, era negro mesmo. Sua máscara mortuária revela um nariz grosso, achatado para os cantos, bem diferente dos narizes afilados do alemão típico.

Essas características do compositor nunca foram escondidas. Não houve um apagamento proposital como alardeiam algumas vozes, para cumprir agenda. Porém, nunca deixa de espantar o fato dele não ser um indivíduo de pele branca, olhos azuis e cabelos loiros.

 

Não é bem assim…

 

Beethoven

 

Mozart

 

Haydn