*Nadja Lira
O Carnaval acabou. As fantasias foram guardadas e nas ruas já não se ouve mais o som das cantorias e dos tamborins. O Baiacu na Vara já se recolheu juntamente com os Cão da Redinha, O Galo da Madrugada foi dormir e os garis já recolheram a sujeira que os foliões deixaram nas ruas por onde passaram esbanjando alegria. No Brasil existe um ditado, cuja afirmação é a de que o ano realmente só começa depois que o reinado de Momo termina.
Então, como a vida já retoma sua rotina normal, começamos a vivenciar os engarrafamentos no trânsito, a superlotação no Hospital Walfredo Gurgel e a suspeita de que os professores, mais uma vez, correm o risco de ficar sem aumento de salário. O som propagado pelos blocos carnavalesco também foi providencial para a governadora do Estado promover aumento nas passagens intermunicipais.
A música contribuiu para abafar o murmúrio das lamentações de usuários dos transportes intermunicipais e também do transporte coletivo de Natal, cuja passagem passou de 3,90 para 4,50. O Carnaval é um excelente anestésico para fazer o povo esquecer de suas desditas e nossos governantes sabem muito bem disso, uma vez que aproveitam o período momesco para realizar suas “benfeitorias”.
A vida realmente volta ao normal para todos. Os cidadãos continuam sendo vítimas da “insegurança atípica” e os roubos de celulares permanecem ininterruptos, para que os “menininhos da vovó” possam tomar uma cervejinha. Os roubos de fios de cobre também continuam a serem praticados, sem que as autoridades tomem qualquer providência para inibir esta prática, que gera prejuízos para a população pagadora de impostos.
Aliás, não se pode esquecer, que o povo brasileiro precisa trabalhar quatro meses e 27 dias, unicamente para pagar impostos, os quais não são revertidos em serviços para a população. Cerca de 71% dos impostos pagos pelo trabalhador brasileiro, referem-se às compras do dia a dia. Para se ter uma ideia, na compra de um carro 2.0 nacional, 38% do valor são de tributos. No caso da compra de um automóvel internacional, a proporção sobe para 78%.
Como se não bastasse a alta carga tributária que o brasileiro é obrigado a pagar, ele ainda tem que conviver com um incômodo ainda maior: a corrupção endêmica que vigora no País. A corrupção reduz a possibilidade de uma vida melhor para o cidadão brasileiro, uma vez que diminui os investimentos públicos na educação, saúde, segurança, habitação e transporte.
De acordo com dados da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a economia brasileira perde todos os anos com a corrupção, valores entre um a quatro por cento do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, um valor superior a 30 bilhões de reais.
A corrupção, contudo, não é uma prática nova. Existem relatos de sua prática nas mais altas esferas do poder, desde o início do século XIX. Naquele tempo, os poetas já escreviam versos sobre o assunto: Quem furta pouco é ladrão / Quem furta muito é barão/ Quem mais furta e esconde / Passa de barão a visconde.
Mas, como no Brasil tudo acaba em samba, vamos esperar pelo Carnaval do próximo ano, quando todos irão cair na folia, esquecendo as dores, horrores, tristezas, insegurança, corrupção e outras mazelas brasileiras. É importante não esquecer, que Ali-Babá não morreu. Continua infringindo as leis, desrespeitando a Constituição Federal, falando bobagens, fazendo vergonha aos patriotas e sendo um perdulário contumaz. Afinal, o ano acabou de começar e a vida voltou ao normal.