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Carta a Charlotte Brontë

Escritor gaúcho estreia como Colaborador de Navegos publicando uma série engenhosa de “cartas imaginarias” escritas a autores e personagens da alta literatura.

*Cleber Pacheco

Prezada irmã,

Enquanto carrega você a preciosa carga dos nossos escritos com o intuito de encontrar algum editor disposto a publicá-los, permanecemos aqui, vulneráveis ao implacável vento das charnecas, à vastidão à nossa volta, ao nosso solitário viver.

À noite sento-me diante da pequena chama a alumiar as coisas e ponho-me a escrever versos. Podem eles parecer impetuosos a um possível leitor ou até mesmo obra de amador. Pouco me importa.

Aqui, neste abandono, conta realmente o fato de poder entregar-me por inteiro à paisagem e, muitas vezes, durante a madrugada, sair às escondidas e aventurar-me pelo furor das fustigadas charnecas, sondando a escuridão e seu mistério, mergulhando no coração das trevas, no selvagem coração da vida, no imo das coisas impensadas. Não é loucura. Nem estou sem rumo. Ao contrário, sei exatamente o que pretendo alcançar.

Nada me detém, nada me impede. Vou. E este ir por si só me conduz sempre adiante, sempre adiante. Seguir. Não se assuste. Esta é a minha natureza. Se assim não o fizesse, nada mais me restaria. Estaria morta. É isso que me faz ser quem sou.

Sinto-me enfraquecida, bem sei. É o preço a pagar. Pagarei. Breve é o meu tempo. Não acompanha, o corpo, o chamado que me consome. Não recuarei.

Emily Brontë.

Em destaque, a aldeia onde nasceram e viveram as escritoras; acima, as Irmãs Brontë.