*Cleber Pacheco – Escritor, Crítico e Doutor em Letras.
Querida esposa,
Estava eu com o nosso amigo Byron quando recebi o teu manuscrito intitulado Frankenstein. Foi uma grande surpresa para ambos, uma vez que havíamos esquecido por completo nossa anterior proposta de escrevermos a mais horripilante e macabra das histórias. Assim sendo, foste tu a única a cumprir o trato. Sentamo-nos sob a luz do lampião e da lua para mergulharmos em tua extraordinária invenção.
À medida que avançávamos a leitura, alternando os papéis de leitor e ouvinte, cada vez mais nos convencíamos que o verdadeiro Prometeu só poderia ter sido uma mulher e não um homem. Ninguém mais ousaria roubar o fogo dos deuses e entregá-lo à raça humana.
Minha adorada Mary, assustado fiquei contigo e horrorizei-me ao descobrir com quem me casara. Porque só então percebi, mesmo tendo escrito tanto a respeito, em que consiste o verdadeiro amor. Por tal revelação, te agradeço.
Eternamente teu,
Percy Shelley.
