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Carta imaginária de Schiller

Vigésima oitava carta de Schiller da série de Cartas Sobre a Educação Estética da Humanidade (Inacabada)

*Cleber Pacheco

Se as alegrias dos sentidos podem apenasmente ser desfrutadas por nós enquanto indivíduos e as do conhecimento enquanto espécie e a beleza pode, enfim, unir os dois aspectos ao mesmo tempo, em que consiste a alegria proporcionada pelo belo?

Permitireis que vos exponha um outro quesito antes de chegar a esta indagação e respondê-la. Se, talvez, em hipótese muito remota, chegasse o dia em que o feio, o doentio, o mórbido, o mau e o cruel, o ruim e o perverso, ou seja, tudo o que se opõe rigorosamente ao belo, se tornasse um valor em si, o que seria da humanidade?

Se o gênero humano se voltasse para a perversão, a crueldade e o ódio, possível seria criar uma autêntica obra de arte, possível seria a cultura, a civilização? Se a felicidade consiste no equilíbrio de todas as forças humanas, o que seria de todos nós se o mal prevalecesse? É inconcebível a viabilidade de um Estado desarmônico que se sustentasse por muito tempo e se nutrisse do caos e dele dependesse para massacrar o que existe de mais autêntico na humanidade.

O resultado só poderia ser a extinção de tudo o que conhecemos e sentimos para o estabelecimento de uma nova ordem, para o Império Absolutista do Mal, levando-nos à total destruição, ao aniquilamento, ao Nada. Assim sendo, retornemos à questão: em que consiste a alegria proporcionada pelo belo?