*Franklin Jorge
A falta de previdência das instituições culturais delatam o desapareço das autoridades no trato da nossa cultura. Prova-o a vandalização da estátua do escritor Luís da Câmara Cascudo, chantada em frente ao seu Memorial, no Centro histórico de Natal. Amanheceu ontem com as mãos pintadas de vermelho, acompanhada da frase injuriosa e descabida ‘’fascistas não passaram’’.
Quem conhece a cultura local não ignora que há um ódio recorrente contra o autor da mais importante e deliciosa biografia da nossa cidade, tão ingrata com os seus valores mais autênticos e laboriosos, desinteressados contribuintes do patrimônio cultural, como Cascudo, que através de sua obra prodigiosa engrandece o nosso povo, dos mais simples aos mais notáveis, como bem o fez em sua comarca de velhas figuras.
Quem conhece sua história sabe que esse ódio não é recente e tem se manifestado de maneira reiterada durante toda a sua vida de Fazedor exemplar. Quando Professor e Diretor do Atheneu Norte-riograndense, colegas seus quiseram ridiculariza-lo e destitui-lo de seu magistério, ao pinta-lo como alguém que se desclassificaria por ter relações íntimas com o povo e com o seu imaginário baseado na singularidade de vivencias, crenças e tradições. A ponto de, movidos pela inveja, atribuírem a autoria de sua obra a outrem, como terá ocorrido na Inglaterra com William Shakespeare, cuja obra foi atribuída por mentes doentias a Francis Bacon.
Contudo não tem sido Cascudo, dos nossos grandes, a sofrer com isto. Outros, como Newton Navarro, sofreram na própria pele achaques prodigados pela inveja que persegue e não perdoa o talento que se manifesta com a mesma pujança das forças da Natureza. De fato, não é fácil aceitar o talento alheio, sobretudo numa cidade que em todas as épocas tem se comprazido em bajular o medíocre, como fez em tempos relativamente recentes com Esmeraldo Siqueira e Ney Leandro de Castro, para citar apenas dois cruentos e infamantes invejosos, já falecidos.
No entanto, no caso recentíssimo da agressão à memória de Cascudo e à Cultura norte-riograndense, por ele e por sua Obra honrosamente representada, há um culpado que não pode ser ignorado nem perdoado: a falta de apreço de gestores e instituições culturais pelo nosso patrimônio histórico e cultural, agravado pelo descaso e a falta de previdência de quem não é capaz de adotar as medidas necessárias de preservação e conservação de bens que são únicos.
Voltarei ao assunto.