*Jamal Singh
A história, dependendo do ponto a partir de onde se observa, sempre pode parecer um pouco diferente.
Você que é brasileiro sabe que Che Guevara foi um líder revolucionário comunista, que nasceu na Argentina, usava boina, tinha barba e que mudou a história de uma ilha chamada Cuba. Tudo isso antes de virar estampa de camiseta de loja de grife e tatuagem no braço de Maradona. Mas imagine se você vivesse do outro lado do mundo, num país com uma outra história e com outras tradições, tanto culturais como políticas. Essa é uma das coisas mais interessantes de “Che – Uma Biografia”, um Manhwa (como são chamados os quadrinhos coreanos) escrito e desenhado por Kim Yong-Hwe.
“Che” se inicia com depoimentos de intelectuais como Jean-Paul Sartre e depois faz um paralelo da vida de Che com Neo (do filme Matrix) e da situação histórica de cuba com a saga “Star Wars”. Após uma rápida passagem explicativa sobre o ícone Che Guevara, tem o início propriamente dito da narrativa sobre a vida e morte deste homem que marcou profundamente a história de Cuba, da América do Sul e do mundo. A narrativa empregada pelo autor é fluida e simples, com enquadramentos que não fogem do tradicional e conservam as marcas da cultura oriental, como por exemplo expressões de felicidade e tristeza bastante acentuadas.
O autor ao longo da trama faz paralelos com alguma a História de seu próprio país, a Coreia do Sul. O narrador da trama, um garotinho oriental, aparece de quando em quando nos cantos das páginas para explicar conceitos como “imperialismo”, “teoria da dependência”, a asma e os dilemas existenciais de Che. Todas as passagens mais importantes da vida dele estão lá: A primeira viagem de motocicleta pelo continente, o encontro com Fidel Castro, a saga na selva de Sierra Maestra, a derrubada do regime de Fulgêncio Batista até a morte de Che, em La Higuera, na Bolívia.
As vidas de José Martí, um herói da Independência de Cuba, do Marechal Tito da República da Iugoslávia, que conseguiu manter o socialismo em seu país independente da União Soviética apesar das várias tentativas de assassinato de Stalin, e dos protagonistas do imperialismo Ianque e europeu são reveladas junto à vida do médico argentino Ernesto Guevara De La Serna, um sonhador em busca de ideais, que se transformou em mito antes mesmo de sua morte e que até hoje corresponde ao retrato de um mundo mais justo e livre.
Foi lançado pela Editora CONRAD (que após um tempo inativa está de volta com quadrinhos digitais) em 2007, quando se fazia 40 anos do assassinato de Che. Na parte gráfica, o encadernamento é de primeira. As imagens do lado de dentro da capa, contra-capa e nas páginas brancas que marcam o fim de cada capítulo foram uma boa idéia e enriquecem mais a obra. Este quadrinho não pode nem deve ser tomado como fonte única para uma pesquisa a respeito da vida do personagem, mas concede um vislumbre do caráter e aventuras deste que é um dos maiores heróis do século XX.
