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Chico da Bomba vai aos EUA

Comerciante alçado à condição de prestigioso político, popularizado por sua maneira peculiar de ser, Chico da Bomba leva a família a conhecer Nova York e volta impressionado em constatar que nos EUA as crianças falam inglês.

*Nadja Lira

Chico da Bomba foi uma figura de destaque na vida de todos os que nasceram, viveram ou conhecem a cidade de João Câmara. De simples motorista de caminhão, ele se transformou em um político querido e popular. Dono de uma simplicidade ingênua, Chico da Bomba foi prefeito do município por 10 anos, porque os mandatos eletivos eram de cinco anos, elegeu seu sucessor e protagonizou vários episódios interessantes na vida dos camarenses.
Um dos seus maiores sonhos era conhecer os Estados Unidos e para isso, colocou sua filha Edinha, para estudar inglês, no SCBEU – uma das primeiras e renomadas Escolas de Idiomas de Natal. Ela estudava com a responsabilidade de, ao final do curso, servir como intérprete para sua família em uma viagem aos Estados Unidos.

Ao concluir o curso, a família partiu para aquela que seria a realização de um dos maiores sonhos do então prefeito. Chegando a Nova Iorque, ficaram hospedados em um confortável hotel na Quinta Avenida. Chico da Bomba mostrava-se eufórico e ansioso para colocar em prática os conhecimentos lingüísticos de sua filha. Deixaram as malas no hotel e partiram para uma exploração nas ruas e avenidas das imediações. Chico da Bomba demonstrava surpresa e uma profunda alegria ao ver que sua filha havia de fato, aprendido a falar o idioma americano. E ela, numa demonstração de profunda conhecedora da língua, lia e traduzia para o pai, todos os anúncios que encontrava pelo caminho. Aproveitava a situação para ensinar ao pai e a mãe, algumas palavras do vocabulário
americano. Expressões como “bom dia”, “por favor”, “com licença”, e “obrigado” passaram a fazer parte do cotidiano da família. “Pai, o “i”, em inglês tem som de “ai”, ensinava Edinha e Chico tinha a plena certeza de estar aprendendo a falar inglês. À noite, pouco antes de dormir, ela ouviu um diálogo entre os pais: “Chaico, Chaico, me passa o painaico que eu preciso fazer chai-chai”. Era Dona Maninha tentando dizer em inglês: Chico, Chico, me passa o pinico que eu preciso fazer xixi.

Depois de duas semanas nos Estados Unidos, a família retorna para sua rotina em João Câmara, onde o Secretário de Administração organizou uma grande festa para receber a família. Convoca, então, os moradores da cidade para se fazerem presentes na chegada do prefeito. A Filarmônica de João Câmara formada por Agostinho Timtim, Manoel Avoête, Compadre Bi, Deca, Boneca, Geraldo Alves e tantos outros, estava afinada esperando a chegada do prefeito. A cidade não dispunha de uma estação rodoviária nesse tempo e os ônibus paravam em frente à Cisaf, no centro, onde uma verdadeira multidão esperava o prefeito tão querido. Eu, jornalista recém-formada, encabeçava a fila com um microfone e um gravador em punho. A entrevista com o prefeito seria transmitida pela emissora de rádio local para toda a região do Mato Grande.

Finalmente o ônibus chega, a Filarmônica toca e Chico da Bomba sai do ônibus carregado pelo povo. O tumulto foi geral. Passada a euforia, ele faz um discurso emocionado e eu, finalmente, consigo entrevistá-lo. Pergunto, então: “Senhor prefeito, o que mais lhe chamou a atenção nessa viagem aos Estados Unidos?” Ele pensa um pouco e responde: “Olhe, minha filha, o que mais me chamou a atenção nos Estados Unidos foram as crianças”. “Como assim, Seu Chico?” “Ora, minha filha, umas crianças com quatro, cinco anos de idade tudo falando inglês!”.

Nadja Lira – Jornalista • Pedagoga