*Franklin Jorge
A casa-grande do Engenho Guaporé, onde devia estar instalado o Museu Nilo Pereira, é prova cabal do descaso de nossos governantes para com a nossa cultura e da alienação do próprio povo do Ceará-Mirim que não cobra das autoridades as ações cabíveis para, não digo ressuscitá-lo – pois um museu sem acervo, mesmo quando denominado como tal, não existe -, mas para soprar sobre suas ruinas um hausto de vida, a começar pela recuperação do prédio e a formação de um acervo que o justifique como instituição.
Não compreendo como uma cidade que já foi uma das principais economias do estado, tenha decaído tanto em tão pouco tempo! E que nunca, jamais uma voz local tenha se levantando sua voz para clamar, mesmo em um deserto de homens, em sua defesa. Só pode ter sido descuido da população, votando sem exigência nem rigor em qualquer forasteiro ou, simplesmente, em qualquer despreparado à caça da chave do cofre.
Parece-me ser uma característica do povo potiguar, em geral e do Ceará-Mirim, de Natal e do Açu, menosprezar os seus valores, deixando-os morrer e desaparecer à míngua de uma mínima ação. Cidades que têm secretários de cultura, nada fazem em defesa do patrimônio cultural que se desfaz a olhos vistos, como os antigos engenhos do Vale do Ceará-Mirim e a cidade do Açu, que já teve o maior conjunto colonial do Rio Grande do Norte, como os dos chamado Quadro da Matriz, onde se localiza, entre outros, o Solar da Baronesa de Serra Branca, cujas portas almofadadas foram levadas para a Usina São Francisco por uma açuense que lesou assim o seu próprio povo e as senzalas, onde brinquei em menino e morador da antiga Rua das Hortas (atual Moisés Soares 89), feitas de madeira, consumidas pelo fogo. Lembro-me que animais e seres humanos viviam ali em promiscuidade. embaixo, as cavalariças do Barão de Serra Branca; em cima, os cubículos dos escravos erguidos ao longo de uma alta parede. uma tarde, pegou fogo… E o antigo sobrado dos Macedo, ao lado da Prefeitura Municipal, que foi derrubado faz tempo para construir-se ali uma casa de comércio, sem nenhum ai dos açuenses que costumavam falar tanto em cultura sem nada fazer por sua preservação. Como a casa do historiador Francisco amorim, herdada de seus avós, do mesmo estilo e gosto açorianos.
A decadência avança do Vale sobre a cidade do Ceará-Mirim, que teve a sua fonte pública – protegida pelo brasão monárquico, teve a casinhola que a protegia derrubada para transformar-se em balneário, o que nunca aconteceu. A Rua Grande, onde nasci, com os seus velhos e sombrios casarões é uma ruína que acusa a inépcia e o descaso de governantes que só pensam em seus interesses. Da Ribeira, em Natal, nem falo. Está aí para quem tem olhos, vê-la…
As cidades do Açu e o Ceará-Mirim perderam a chance e a vez de se tornarem endereços turísticos, como em Goiás a antiga Cidade de Goiás e as demais cidades que históricas que guardam tesouros de tempos coloniais, que hoje exploram o seu patrimônio cultural como veios turísticos.
Faltam homens capazes ao RN, está mais do que provado. E, como se não nos bastasse tanta desgraça, ainda nos damos ao desplante de ter um arremedo de macho no governo do estado.