*Gianfranco Bellinzona
Sobre as matérias da pandemia, meio ambiente e mudanças climáticas, os intelectuais progressistas, maîtres à penser da nossa época, proclamam ser aliados da ciência contra o suposto obscurantismo dos conservadores.
Respaldados pela mídia militante, rotulam de anticientíficos aqueles que expressam ideias divergentes das do pensamento único “politicamente correto”.É a antiga armadilha retorica – argumentum ad hominem – apontada pelo filosofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) no celebre ensaio Dialética erística – A arte de estar certo: denigre a imagem do opositor para prevalecer no debate e ganhar consenso.
O pensamento liberal, justamente porque aprecia o valor autentico do conhecimento cientifico, distingue com clareza a ciência da pseudociência.
A ciência não é nem progressista nem conservadora, é simplesmente progressiva porque o nosso atual conhecimento sobre a natureza é só uma mínima parte do todo conhecível.
Na historia da ciência, teorias já tidas como certas vem sendo substituídas por outras mais firmes e abrangentes. Portanto, os verdadeiros cientistas não assumem atitudes arrogantes, cientes que os resultados das pesquisas são sempre provisórios e questionáveis e a firmeza de uma teoria, mesmo quando respaldada por centenas de dados, pode ser abalada por uma só evidencia contraria.
O pensador liberal e filosofo da ciência Karl Popper (1902-1994), talvez o maior epistemólogo contemporâneo, ensinou que a marca distintiva de um asserto autenticamente cientifico é propriamente o fato de ser questionável. Toda e qualquer proposição apresentada como inquestionável pode expressar um firme convencimento subjetivo, um mito ou uma crença, mas de certo não é um asserto cientifico.
Apesar do engajamento dos intelectuais progressistas e da mídia militante, o pensamento único politicamente correto não combina com a ciência, não gera progresso e sim estagnação cultural.
*O autor é italiano, residente no Brasil e doutor em História e Filosofia.