*Franklin Jorge
Como porcos de barriga cheia e que enfarados de tanta fatura revolvem com seus focinhos a abundante comida colocada nos cochos, assim parece-nos a todos o Judiciário Brasileiro que, mamando gordos salários de marajás, se dá ao luxo de nada fazer ou de fazer o que lhes dita o ócio escandalosamente remunerado com o suor do espoliado povo brasileiro. Como fui criado em uma propriedade rural, lembrei-me de ter visto essa cena dezenas de vezes: o porco farto refugando a comida e misturando-a à lama.
Raro o dia em que não nos deparamos nos noticiários com notícias e fatos que comprovam a degenerecência de um poder que se tornou incomodo e dispendioso e, o que é pior, que se refestela em gabinetes cercados de serviçais e benesses, limitando-se muitas vezes a rubricar o fruto do trabalho alheio sem nenhum pudor e sem consideração ao mérito que devia reger o serviço público.
Recentemente vimos, aqui em Natal, um Procurador Federal viciado em academias e redes sociais a deblaterar contra a liberdade de expressão e a perseguir blogueiros, com a arrogância de quem tudo pode e se escusa de prestar satisfação à sociedade. A falta de decoro que contamina o Judiciário tira-lhe toda a credibilidade. Por isso é cada vez mais raro encontrarmos no âmbito dos servidores da lei exemplos como o jurista Edilson Alves de França e Cibele Benevides, que levam o seu trabalho a sério, honram ou honraram as funções para as quais foram designados. Em síntese, nosso Judiciário perdeu o decoro e parece ter orgulho de resvalar na sarjeta.
Há quem o tenha mandado – a esse procurador ávido de notoriedade – arranjar uma lavagem de roupa para ocupar seu tempo em vez de perseguir e disseminar o terror em todos os estamentos sociais, fazendo-nos crer que voltamos àqueles tempos que nos deram obras imortais, como Fuenteovejuna, na qual o povo se revolta contra a lei injusta e o poder arbitrário, deu ensejo ao surgimento de obras como a de Lope de Vega, criação imortal do engenho humano que devia ser lida com mais frequência por expoentes de um Judiciário picagrossa.
A última do Ministério Público Federal seria cômica se não fosse séria registrou-se em Pernambuco, em detrimento de tantas outras urgências que saltam aos olhos de todos os impotentes desta nação, escravizada à vontade de togados sem noção. Duas diligentes procuradoras querem tirar o nome do Marechal Castelo Branco do prédio do Exército Brasileiro, em construção, no Recife, pela 7ª Região, e para isto ajuizaram ação civil pública, enquanto fecham os olhos a corrupção que grassa em instâncias governamentais daquele estado, como o mau uso de recursos da saúde e desvio de verbas em plena pandemia – essa pandemia que tem se revelado uma mina de ouro para governantes corruptos que fazem bem o que sabem fazer: roubar, mesmo em meio a peste chinesa.
A polêmica em Natal agora diz respeito à propaganda de um motel que em tempos de pandemia recorreu a uma modelo fantasiada de enfermeira para atrair clientes e nos fazer rir da maneira espirituosa com que está oferecendo seus serviços. Pois não é que surgiu um procurador desocupado para questionar a boutade? Sem animo nem coragem para atuar em coisas sérias e urgentes, como a fiscalização da saúde pública (o que inclui os animais abandonados que perambulam pelas ruas de Natal), da cultura e da educação, para ficarmos em apenas três exemplos gritantes, o Ministério Público do RN encontra motivos em uma propaganda de motel para se fazer de objeto de galhofa e repúdio popular, ao alegar que tal propaganda ofende às enfermeiras, que até este momento não protestaram.
Lembra-nos esse poder que tudo pode aqueles porcos que, já fartos de tudo, diante do cocho transbordante, ocupam-se de revolver a comida com o focinho até esparramá-la no chão, transformando-a em lama: no presente caso, a lama judiciária que causa repulsa a todo cidadão de bem e contra a qual parece não haver remédio nem desinfetante capaz de extinguir-lhe o mau cheiro.
No mínimo há de se perguntar os cidadãos: a que horas essa gente trabalha quando não está agarrada ao celular, exercitando os músculos em academias ou passeando nos shoppings?