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Como surge a arte

Fundador de Navegos expõem sem rebuços bastidores de uma cultura que se compraz no compadrio e atrasa o processo criativo, dando asas a quem só tem calcanhares.

*Franklin Jorge

Tenho dito já por diversas vezes, em circunstâncias jornalísticas, que a arte começa com o exercício da generosidade. Sem essa interação, não há criação – enfim -, não há arte. Talvez isto explique, de maneira contundente e irretocável, a razão do nosso atraso em relação a outras cidades mais próximas, como João Pessoa, Fortaleza e, especialmente, o Recife, que sempre prosperaram como centros culturais.

Embora historicamente vocacionada para o cosmopolitismo, seja por sua posição geográfica seja por suas peculiaridades – como ter sido uma possessão holandesa, nunca conseguiu sair do brejo onde se atolou como que irremediavelmente. De monumento relevante e peculiar, tem apenas o Forte dos Reis Magos, ao contrário de outras capitais nordestinas que podem enumerar a marca do homem, ou seja, do trabalho do homem que, enfrentando as mesmas vicissitudes, imprimiu na terra seu esforço e seu labor.

Aqui, não. A inveja domina e até se diz que somos capazes de gastar duzentos para evitarmos que alguém ganhe vinte. O importante aqui não é o esforço coletivo, mas a inveja coletiva que cria obstáculos e barreiras, se não intransponíveis, difíceis de transpor.

Somos um povo sem grandeza. Me lembro da grande decepção que tive quando soube que Cãindinha Bezerra se unira a Dácio Galvão, não para trabalharem em favor da cultura, mas para dela tirar proveito, ao criar uma empresa privada para arrebanhar os recursos públicos, enquanto no Recife os milionários contribuem para o engrandecimento cultural de sua terra, como fizeram os Brennand com ideias que podiam parecer mirabolantes, ao serem concebidas, torando-se depois em marcos históricos reconhecidos em todo o mundo. Ao contrário, aqui,  Dácio e Cãindinha deixaram os nossos artistas mais pobres e isto se refletiu de maneira inquestionável na repulsa dos nossos artistas e empreendedores ao senador Fernando Bezerra, que Não soube por limites aos apetites de uma dupla que só pensou em faturar em causa própria.

Me lembro que certa vez ele me chamou ao seu gabinete, já senador eleito, para que eu escolhesse um cargo em uma lista com salário que me pareceram de marajás. Lembro-me sobretudo que ele, diante das principais opções, aconselhou-me a escolher alguma coisa relacionada com Brasília, pois, segundo suas gentis palavras, lá eu teria a oportunidade de pôr em evidência o meu talento de escritor e jornalista. “Lá, vc terá acesso às embaixadas, conviverá com gente influente e fará brilhar facilmente o seu talento, pois estará entre os maiorais da Republica.

Estava eu desempregado e muito me esforçara para elege-lo, usando de meu prestígio junto ao povo do Rio Grande do Norte, que visitei e avalizei seu mérito. Porém, logo me desenganei ao ouvir dele que esperássemos sua mulher e Dácio Galvão, para com a ajuda deles escolher o que fosse melhor para mim. Vi claramente que caíra em uma cilada, pois conhecendo Dácio Galvão de outras quebradas, logo percebi que o senador fora enganado e eu não sou homem de enganar seus amigos. Na mesma hora, agradeci e renunciei aos seus generosos agradecimentos pelo muito que eu me empenhara para fazê-lo senador, viajando sem descanso, às expensas do ex-vereador Lauro Melo, para conquistar-lhe votos. Pensava que ele seria o futuro, mas na verdade era o passado que persistia em sua figura. Creio que Fernando Bezerra, homem bom e generoso, jamais entendeu os meus motivos. Preferi recusar o emprego em Brasília a tornar-se cúmplice de um traidor – Dácio Galvão, que como era de se esperar, traio-o desavergonhadamente, ao explora-lo em sua boa fé. Assim perdi a única oportunidade que tive de vir a tornar-me um autor nacional. Quem anda com Dácio não precisa de inimigos, há de pensar, hoje, o ex-senador que desapareceu do mapa.