*Abraão Gustavo
A guerra por achar uma cadeira no ônibus é homérica, longas horas até chegar ao trabalho é o primeiro desafio de muitos brasileiros. A brincadeira da dança da cadeira, na infância, era só um treino para o que viria nos próximos anos com o transporte público. E tem de tudo que é reclamação:
-Esses jovens, mal-educados, que não levantam, quando a gente chega no ônibus!
-Os pais deveriam dar mais educação!
Tem gente que aproveita a viagem lendo algum romance. Ou um auto ajuda, indicado por Coach de sucesso, quem sempre nos seduz dizendo: “Olha só a minha Ferrari, olha como eu tenho uma esposa linda. EU AMO PASSEAR COM ELA NAS MALDIVAS. Veja sua bolsa da Louis Vuitton. Quer saber o meu segredo? Arrasta para cima.” Eles adoram dizer que somos fracassados e procrastinadores, e sempre terminam dizendo:
“COMPRE MEU CURSO! Vou te ensinar a sair desta.”
A verdade é que continuamos aqui. Atuando, sem óscar e sem dinheiro. Mas a lei é clara para os atores que fingem gravidez ou demência:
Ficam todos os assentos dos veículos do transporte coletivo público, do transporte metroviário e do transporte ferroviário passam a ser preferenciais a idosos com idade igual ou superior a 60 anos, mulheres grávidas, mulheres com crianças de colo e pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, o usuário, o usuário que não respeitar, está sujeito a multa.
A safadeza não para por ai, existem pessoas que deveriam ganhar o óscar de melhor atuação, por fingirem que estão dormindo, ou fingirem mobilidade reduzida. Claro, os velhinhos ficam loucos de raiva. Até os espectadores gritarem: “LEVANTA DAI”! Esses dias houve uma discussão feia entre um jovem cego e um senhor de muletas, dizendo que ele tinha dois requisitos para utilizar o assento preferencial. Enquanto o jovem cego só tinha um. Eu só sei que deu uma confusão que quase parou em delegacia. Só terminou, porque a moça loira do lado, que estava dormindo acordou e cedeu o lugar.