• search
  • Entrar — Criar Conta

Confinamento aproxima o ser do humano (1)

De repente o mundo se transformou, aparentemente, em um imensurável presídio. Disseminado pela ditadura chinesa, como uma arma biológica de dominação, o Covid 19, também conhecia como “peste chinesa” está proporcionando a todos a solidão necessária à meditação e a mudanças de hábitos que aproximam o ser do humano. Em duas matérias exclusivas, Navegos ouviu várias opiniões, abaixo resumidas.

*Da Redação

“É no momento da desgraça que a gente se habitua à verdade, quer dizer, ao silêncio.”  Albert Camus (1913-1960), A peste.

Vivemos todos, atualmente, em um estado de exceção importo pela peste chinesa, arma biológica cujos primeiros efeitos sobre o homem se fizeram sentir na cidade de Wuhn e de lá se alastrou pelo resto do mundo, ceifando vidas e espalhando o pânico em três continentes.

Não podia ser diferente no Rio Grande do Norte, que já contabiliza suspeitas de contaminação e óbitos, em número ainda insignificante, que chegam a […] desde que a peste se instalou entre nós, forçando-nos a mudar a rotina diária e a manter enclausurados em suas casas grande parte da população, em grande parte aturdida pelo inesperado e pela falta de ações efetivas das autoridades que ainda discutem quando deveriam estar agindo pelo bem comum.

Navegos ouviu várias pessoas que de repente se viram confinadas em suas casas, acerca das mudanças que afetam o dia a dia de cada uma e o que se faz para amenizar, além da quebra da rotina que para muitos é uma espécie de ascese, como o desfrute confortador do hábito e o pânico fomentado pela incerteza e o pânico que compraz autoridades que não agem ou adotam as piores soluções, geralmente para justificar o superfaturamento de gastos inúteis com paliativos, como a construção de hospital de campanha em gramado do estádio Arena das Dunas, em Natal, quando a rede hospitalar do estado vive há anos entregue à incúria de sucessivos governantes que têm em comum, apesar das cores partidárias, a vocação para fazer o mal ao maior número possível de cidadãos que sequer podem mais reclamar ao bispo.

A seguir, alguns depoimentos dentre os muitos que colhemos sobre o horror que caracteriza os dias em que vivemos, entregues à própria sorte:

Laurence Nóbrega, empresário: Confinado no espaço real, aproveito o tempo para ler alguns livros que não tive tempo de lê-los e reler outros que havia lido tempos atrás. No espaço virtual, assistindo alguns filmes atuais e revendo filmes antigos (Tomates verdes fritos, Um peixe chamado Wanda, A vida de Brian). Revendo a filmografia de Ingmar Bergman, de Mel Brooks, de Almodóvar e outros diretores que sempre é bom reencontrar.

No plano pessoal e de amizades, tenho dado mais valor a conversas com os amigos, ao invés de ficar cutucando teclados em whatsapp. Procuro evitar discussões políticas, pois já tem muita gente dando palpite

Nadja Lira, professora e jornalista: Meu confinamento iniciou-se de maneira forçada, porque adoeci de gripe e tive todos os sintomas do Covid 19. Curada a gripe permaneço sofrendo com um cansaço terrível.

Minha rotina: acordo por volta das 8h, tomo café, converso com as pessoas de casa e passo um longo tempo navegando na internet para me inteirar das notícias.

Vejo um pouco de TV junto com mãe de 88 anos, par que ela não se sinta sozinha. Almoço às 13h. Assisto o noticiário do SBT e durmo um pouco.  Leio e estudo um pouco de alemão e de francês. Às vezes escrevo algum texto para Navegos. Respondo as mensagens que chegam pelo Whatsapp e no e-mail. A partir das 17h assisto as novelas do SBT fazendo companhia a mamãe. O jantar é servido às 19h. Janto enquanto a TV está ligada e vejo o Jornal apresentado por Ediana Miralha na TV Ponta Negra. Em casa mamãe assiste toda a programação do SBT até meia noite, quando vamos dormir.

Não tenho enfrentado grandes problemas com o confinamento, porque gosto de ficar em casa. Para mim não existe lugar melhor para estar do que a minha casa. E como não sinto minha recuperação completa, fico em casa sem grandes traumas.

O tempo em casa tem sido bom para eu fazer as coisas que gosto como ler e ouvir minhas músicas preferidas. Os mantimentos são comprados num mercadinho perto de casa.  Os pedidos são feitos pelo telefone e o entregador bem trazer.

Honório de Medeiros, escritor, advogado, procurador do estado aposentado: :Eu chamaria minha rotina diária, nesse confinamento, de “trivial variado” ou “mais do mesmo”, porque ela não é muito diferente de como era antes do vírus chinês.

Como estamos autoconfinados, ninguém sai ou entra, exceto para a feira ou farmácia.

Há os deveres: cozinhar, limpar, lavar, varrer, e o lazer. Neste, às vezes juntos, às vezes, não.

Leio e escrevo muito. Na verdade, mais releio do que leio. Estou revisando alguns escritos e terminando um livro. Quando canso, vou ver algum documentário, filme ou série.

José Fernandes de Medeiros, técnico em informática e presbítero: Minha rotina mudou completamente nesse confinamento da seguinte forma: a)  Trabalhando numa empresa de segurança eletrônica com instalações de equipamentos, nas horas vagas, trabalho em casa com conserto de equipamentos de informática e eletrônica. Neste confinamento estou sendo obrigado a permanecer em casa e atender a pouquíssimos clientes com receio de ser um receptor ou transmissor desse Covid19. Estou superando essas limitações com leituras, pesquisas, reflexões e jogos familiares nas horas que tiramos para recreação. b) Membro de uma igreja, alguns dias da semana, participo de reuniões, cultos, estudos bíblicos, etc… Como a mesma se encontra fechada até Deus sabe quando, procuro em horários determinados, superar tudo isso pelas Redes Sociais, nos reunindo em grupos, para debates, cultos e orações, vendo mensagens bíblicas de pregadores da minha e de outras congregações, noticiários dos jornais pela TV e Internet.

Aprendi que o homem apesar de querer ser sábio, poderoso, inteligente, acumular riquezas enormes, não é nada além de um ser humano carente – principalmente de Deus – de amor, amizade, carinho, bondade e segurança.  Muitos, nesse período de tempo, já parou para refletir e conseguiu alguns desses itens que lhes faltava?

Aprendi  também que,  apesar de tudo isso que falei anteriormente,  da tecnologia, ciência, do avanço da medicina no mundo, o homem não é nada, e nunca será  se não tiver a proteção e o amor de DEUS  que os criou para honra e glória do seu louvor, e mesmo assim muitos só o procuram quando estão numa situação como essa em que o mundo está enfrentando, a mais dolorosa batalha no século XXI, com um inimigo invisível, que já matou milhares de pessoas em todo o mundo.

Evanja Barros Pereira, médica aposentada: Nem queira saber como tenho passado! Estou de faxineira há mais de 30 dias, diz, enfatizando tudo com uma grande gargalhada. Mas tenho lido bastante e vendo muitas séries no Netflix e Amazon prime.

– Estou vendo agora Colette, que tinha 40 gatos além de uma coleção de biscuits de gatos. Amo seus escritos

– Não vi!  Mas biscuit adoro. Hoje temos arremedos de resina.

– Tudo hoje é fake

– Sim, o artesanato cedeu o lugar à produção em massa.

– A morte da literatura o prova. Não há mais escritores, apesar da superprodução de livros. Uma verdadeira linha de montagem

– Hoje a maioria das coisas são feitas para uma grande escala com consequentes lucros. Mas acredito ainda em alguns puristas, que elegem uma linguagem contemporânea e conseguem o seu espaço sem vender a alma.

– É o que me tenta

-Tem um que gosto muito. Chama-se Zack Maziege. Escreve textos curtos e perfeitos. Como Traumatismo craniano, Causa mortis…

-Não o li; não conheço.

– Decorei alguns:

Traumatismo craniano, um poema que adoro:

Fruto de mergulhos profundos

Em pessoas rasas.

Seus poemas parecem hai-kais

– Realmente muito profundo. Me Lembram a última fase de Kafka, de textos curtíssimos, às vezes resumidos em uma única sentença.

– Hoje há uma velocidade e pressa da internet contracenando com a leitura. Zack Maziege fala muito de coisas não vividas ou mal vividas. Vale à pena a leitura. Só a pouco lançou livros em papel. Veja este:

Cuidado

Não analise

Demais o que sente.

Apenas sinta!

Autópsias

Sempre estão

Onde não

Existe Vida.

Outra que gosto muito  Sigo ele no Instagram. Ele veio a Natal faz pouco tempo.

– Ele  mora onde?

– Agora em Minas, mas é de São Paulo.

– Tem o contato dele?

– Posso tentar. O público dele varia de adolescentes a adultos .

[Continua…]