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Conversando com Oggio Giliano

Ao visitar na companhia do escritor Honório de Medeiros a Igreja Matriz de São Miguel de Portalegre, nas fronteiras do RN com o estado do Ceará, Fundador de Navegos encantou-se com mural pintado no teto por um jovem artista da terra e quis conhece-lo e assim teve a grata surpresa de conhecer não apenas Giliano, mas a sua adorável família, sobretudo sua bela avó então quase octogenária.

*Franklin Jorge

Ainda menino – melhor dizendo, criança ainda – Giliano já despertava a admiração das pessoas pela facilidade com que desenhava e fazia coisas que fugiam ao lugar comum.

“Quando eu estudava, aos 5 anos de idade, teve uma exposição de desenhos na creche, em São Miguel. Me lembro que tive destaque entre os demais alunos ao desenhar um abacaxi diferente, como o anúncio do que viria, mais tarde pela frente. Também sempre desenhava meus personagens preferidos de desenhos animado. As pessoas, percebendo a facilidade com que eu desenhava começaram a me incentivar”, diz-me o artista, em conversa pelo celular.

Suas principais e mais remotas influências provém de seus avós, sobretudo de sua avó, que se dedicava ao artesanato, como muitas outras mulheres de sua geração e condição social.

“Meus avós foram a base principal. Minha avó era uma grande artesã e eu gostava de observa-la, em seu trabalho,manejando a mamucaba,  tecendo redes, fazendo rendas e bicos numa almofada de bilros; ela fazia também crochê e chapéus de palha. Vê-la trabalhar me enchia os olhos de alegria. Sempre minha avó conversava comigo sobre esses trabalhos, como aprendera a fazê-los.  Quando eu chegava da escola, trazia comigo uns pedaços de giz,e ficava desenhando pelo chão imagens de santos, para que ela as visse e admirasse. Ela elogiava essa facilidade que eu tinha para o desenho e isto foi me servindo de estimulo e incentivo. Aos poucos fui percebendo que tinha uma relação com a criação. Na verdade, aprendi na prática e sem recursos. Naquele tempo não tínhamos ainda o YouTube, nem Google para pesquisar. Hoje, estas ferramentas ajudam muito, mas na minha época não havia nada disso, era tudo na raça, na prática, errando, refazendo e aprendendo.

Aberto às experimentações e ao mundo, aprendeu muito, sobretudo, com a sua avó. Sempre, ao viajar, procura conhecer e ter experiências novas que possam enriquecer sua arte.

“Como artista que sou, pretendo expressar minhas impressões do cotidiano e um pouco da  cultura das regiões do Brasil, desde os costumes, o dia a dia das pessoas, geralmente eu tiro um dia da semana para registrar algumas imagens de pessoas anônimas, frequentando  feiras ao ar livre, ruas, trânsitos… Tudo o que me chama a atenção, eu registro em imagens, depois  faço uma seleção do que me parece mais significativo e vou produzindo meus quadros.

É muito difícil viver de arte no interior, onde não existe mercado nem maiores conhecimentos sobre o fazer artístico.  A maioria das pessoas não distinguem a criação de uma cópia digitalizada. A dificuldade começa pela inexistência de lojas que vendam o material de que precisamos. Por isso, sempre que viajo compro material ou recorro aos sites de compras. Hoje já não temos mais esse problema, mas no início, nesse aspecto, foi difícil.

Giliano tem uma relação efetiva e afetiva com a sua terra, onde nasceu e se criou no Sítio Pau Branco, na companhia de seus avós que o criaram.

Sinto que há uma conexão muito forte com a cidade de São Miguel, cidade serrana de clima agradável, onde as pessoas vivem com simplicidade, entre amigos; coisas que me fazem perceber, ao reencontrar minha terra, que ainda há aqui uns resquícios de vida rural, embora a a urbanização tenha se aproximado cada vez mais do sítio, o que significa dizer que hoje temos problemas que não tínhamos há 15 anos atrás. Mas é aqui, no Pau Branco, entre o que sobrou da natureza, encontro motivos de inspiração para o meu trabalho.

Em destaque, retrato da avó do artista fazendo rendas de bilro, pintada por ele; em cima, Oggio Giliano e vídeo que reproduz a mamucaba em funcionando, tecendo redes.