*Enrique Vila-Matas
A velhice, disse-me ele, era na verdade ideal, porque nela se alcançava uma liberdade que antes não se tinha. Grande nuvem de fumaça depois de dizer isso. Raiva contida, da minha parte. Ele parecia feliz e beirando a alegria extrema e insultuosa. Resolvi perguntar-lhe se ele não achava uma obscenidade insuportável ser feliz. Respondendo-me como se tivesse detectado o ódio que eu sentia por ele naquele momento e quisesse aumentá-lo, disse-me que, com a minha permissão e embora já fossem cinco da tarde, fariam mais algumas reflexões sobre a felicidade, a seguir, o último deles falaria sobre a felicidade de fumar dois charutos no Natal. E então começou um longo discurso sobre a ideia de que os anos de velhice eram livres e insubordinados. Ele disse que o velho em geral é um homem de verdade, porque sabe que é um homem deslocado, é alguém que preenche com vida o espaço vazio da vida e entende o jogo melhor que o jogador porque, estando fora dele, ele se distrai com o esforço de quem dele participa.