*Oliver Harden
Todas as emoções, um dia, se transformarão em pó. O que hoje arde como labareda insaciável será, amanhã, cinza dispersa ao vento da memória. As paixões que nos inflamam, os anseios que nos dilaceram, os medos que nos paralisam – tudo se dissolve no inexorável fluxo do tempo, que não preserva nem mesmo o fulgor mais intenso.
O amor que um dia foi desvario torna-se uma lembrança morna, um espectro desbotado que mal projeta sombra sobre o presente. A cólera que outrora incendiou a alma esvai-se como um trovão distante, cujo eco já não causa sobressalto. A tristeza, essa densa neblina da existência, um dia se dispersa, não por milagre, mas porque até mesmo a dor cansa de ser sentida.
O tempo, esse escultor impiedoso, corrói até a pedra mais sólida, apaga as pegadas de nossa passagem e reduz os ímpetos da alma a uma poeira tênue, incapaz de sustentar a eternidade de qualquer emoção. O que hoje parece insuperável amanhã será ruína; o que nos aflige hoje, um dia será apenas um eco, perdido nas vastidões do esquecimento.
Mas, se todas as emoções hão de se dissipar, se nada do que sentimos permanecerá intacto, qual é, então, o sentido da chama que nos consome? Justamente este: a beleza de saber que cada emoção é única em sua efemeridade, que seu valor reside no instante, não na permanência. O erro não está em sentir, mas em crer que aquilo que sentimos é definitivo.
Aceitemos, pois, que tudo se esfarela no tempo, que o que nos define hoje será pó amanhã. E que, se nada sobrevive à voragem dos dias, ao menos resta a consciência de ter sentido intensamente, de ter ardido, mesmo que por um instante fugaz. Pois, no fim, é a poeira de nossas emoções que compõe a substância do que chamamos de vida.