Anna Laura
É de conhecimento geral que o Brasil está passando por momentos de instabilidade e crise, e que tudo isso está afetando, demasiadamente, a vida da população no geral. Os ataques aos serviços públicos e o crescente aumento do custo de vida do cidadão médio têm um grande impacto em toda a sociedade, inclusive, no funcionamento de microestruturas elaboradas pela própria população para lidar, de forma paliativa, com alguns dos problemas estruturais gerados pela falta de políticas públicas eficientes – como é o caso da saúde animal.
Em Natal, existem diversas ONGs e protetoras de animais que atuam de forma independente, resgatando animais das ruas, tratando enfermidades, lutando pela criação de políticas públicas voltadas para os animais e, muitas vezes, fazendo educação ambiental – todas essas questões são de responsabilidade do poder público, que não cumpre o seu papel e empurra a responsabilidade para a população.
Está ficando cada vez mais inviável que essas entidades caridosas deem conta, minimamente, desse cuidado paliativo – sim, paliativo, pois por mais esforço que se faça, animais em situação de vulnerabilidade não vão parar de surgir enquanto o poder público não tomar as medidas cabíveis, o que incluiria intervenções em diversos âmbitos, desde reformas legislativas até execução de projetos que se encontram nos fundos das gavetas do Executivo.
Falar em saúde animal é falar, necessariamente, em saúde pública. É necessário pensar no macro, além de agir no micro, ou seja, amplificar os cuidados que são tomados pelas ONGs e protetoras em detrimento de cada animal em sua singularidade, e pensar, elaborar e executar medidas práticas com relação à saúde geral desses animais. Controle de natalidade por meio de mutirões públicos de castração, controle de zoonoses por meio de investigação e monitoramento ativo dos animais domésticos, tanto em situação de abandono quanto os tutorados, educação ambiental e conscientização da população também voltada para os cuidados que se deve ter com os animais domésticos.
Imaginar o poder público tomando iniciativa e absolvendo a responsabilidade relativa à tutoria dos animais sem dono das ONGs e protetoras parece ser um sonho distante, mas, nós, ativistas, precisamos cobrar, começando pelo básico como, por exemplo, a criação de um hospital público veterinário em Natal, o que já é uma promessa antiga, mas que nunca saiu do papel. Isso não sanaria todos os problemas vinculados à falta de políticas públicas voltadas para os animais, mas, com certeza, ajudaria a desafogar das dívidas exorbitantes quem tanto luta por essa causa na nossa cidade, oferecendo uma alternativa de cuidado – que não é mais do que a obrigação do governo – para além da iniciativa privada.
É inadmissível que uma cidade com quase um milhão de habitantes não conte com unidades públicas de saúde para tratar seus animais.
Anna Laura, graduanda em psicologia na UFRN, é militante da proteção aos animais.
GATARIA Animais que habitam o Centro de Convivência da UFRN, os quais são alvo de campanha de adoção promovida por alunos, servidores e ONGs como a AU-QUE-MIA; na gestão do ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (2013-2018) foi feito um estudo para a criação de um hospital veterinário municipal, mas o projeto foi abandonado pela atual administração