*Franklin Jorge
Todo esse ufanismo do Assú como a cidade da poesia é mero jogo de cena, um engodo a mais que somente se mostra capaz de afagar vaidades provincianas sem exigência de qualidade e sem ações que contribuam para enriquecer, através do exercício da critica e da autocrítica, uma produção literária que chega a Macaíba.
Apesar de seu rico passado, o Assú nunca cuidou de sua história, e seus governantes apenas se aproveitam da desinformação ou da boa fé de pessoas incautas e de de alguns nomes exponenciais de sua cultura para fazer média e enganar desinformados que difundem ser essa a “terra da poesia”.
Ignora o Assú, inclusive, a ocorrência em seu território do maior genocídio registrado no Brasil, o extermínio de nossos índios numa guerra que durou 40 anos e ficou conhecida como “guerra dos bárbaros”, tema ainda não devidamente estudado, exceto de maneira preliminar, como resgate e registro pelo historiador Olavo de Medeiros que reuniu fontes fidedignas preservadas pelo nosso Instituto Histórico e Geográfico, posto que as fontes mais ricas, por muitos anos em poder de Francisco Amorim (Chisquito), foram destruídas por seus herdeiros desprovidos de respeito à história e ao patrimônio cultural de sua terra..
Quanto aos velhos casarões sobre os quais terei sido eu a primeira pessoa a chamar a atenção para a sua importância, ha mais de 50 anos, alguns já destruídos ou descaracterizados no curso do tempo, jamais despertaram quaisquer interesses dos governantes e políticos locais. Dou-lhes como exemplo o Sobrado da Baronesa, que abriga a cultura do município, jamais foi objeto de preocupação de prefeitos e deputados do Assú. Um equipamento de grande valor cultural, inclusive por ser o único que teve, até o incêndio que a destruiu nos anos de 1960, a única senzala construída em madeira existente no RN. Nunca foi tombado nem restaurado como uma joia do seu passado no âmbito da arquitetura de época. Está caindo aos pedaços, apesar de o Assú jactar-se dessa herança menosprezada, pontualmente exaltada para ludibriar, confundir e esconder o óbvio.
Lembro-me que quando Ronaldo Soares se elegeu prefeito pela primeira vez, fiz-lhe uma sugestão em carta para que tombasse os casarões remanescentes, por constituírem um ativo importante para o implemento do Turismo Cultural, um tema, na época, ainda inédito entre nós. Nenhuma ação foi feita e lá se vão mais de 40 anos desde que escrevi essa carta. Sei que em seu primeiro mandato ele chegou a cogitar na criação de uma secretaria de cultura e até chegou a pensar em convidar-me para exercer a função, para isto procurando a minha mãe, para transmitir-me seu convite, porém ela o informou na ocasião que eu não teria interesse em cargos.
Na verdade, ao escrever-lhe, pensava tão-somente, de alguma forma, colaborar para o resgate da cultura local, enaltecê-la e criar diretrizes para a preservação do patrimônio histórico local, há gerações ignorado e esquecido por todos. Sobretudo por todos esses que entre nós costumam controlar a cultura para mamar nos cofres públicos ou posar de antenados com um ativo que pode alimentar o marketing e a propaganda.
Curioso, em tudo isto, é que há dispositivos legais que asseguram ao município do Assú renúncia fiscal em favor da cultura local. Refiro-me à Lei Sinhazinha Wanderley, aprovada pela Câmara Municipal, ainda sem regulamentação pelo atual prefeito. Desde então, nenhum prefeito sancionou essa lei nem aplicou efetivamente recursos na cultura, limitando-se, quando muito, a promover festas e eventos como se cultura fossem.
Uma das coisas que nos assombra no Assú é a existência de uma Academia de Letras que não serve para nada, a começar pela falta de mérito e de obras da maioria de seus membros, em grande parte desprovidos de mínima cultura, ou seja, da cultura mais elementar, sem nenhuma obra significativa e nenhum comprometimento com a verdadeira cultura que vai muito além de meros eventos festivos que se esgotam no próprio esforço de existir. Porque é sempre mais fácil promover festas do que disseminar o estudo e o conhecimento dos fatos.
Está na hora dos que fazem cultura ou dizem que fazem cultura no Assú deixarem a fanfarronice de lado para começar assumindo a responsabilidade que lhes cabe nesse triste cenário pervertido que se alimenta apenas de leviandade e oba-oba inócuo.