*Franklin Jorge
Há sem dúvida uma arte de ler, como pressupõe Émile Faguet em livro publicado na primeira década do século 20. Uma arte que falta à maioria dos leitores desses tempos cibernéticos e de leitores acríticos, dependentes da Indústria Cultural.
Como seres anódinos e influenciáveis, esses leitores delegam a outros sua capacidade de racionar com a própria cabeça; leitores que não sabem discernir entre escrever e publicar, entre um artefato literário e a Cultura de Massa, entre a criação e a produção que cria artificialmente escrevinhadores.
Um passeio por essas comunidades de leitores que se dizem “amantes ” do livro e da leitura e se reúnem em sítios virtuais, expõe uma realidade que oscila entre um vulgar mercantilismo e a esperteza que abusa da falta de conhecimentos que engordam os lucros de publicações e editoras sem nenhum compromisso com a qualidade e o rigor que formam o gosto de pessoas verdadeiramente instruídas e educadas.
Não surpreende, pois, que nos deparemos frequentemente com leitores que confundem Tolstoi e Paulo Coelho e fazem concessões que destoam da genuína Arte Literária que justifica Baudelaire, ao afirmar sem vacilações que os livros nascem dos livros. Por isso, pode dizer-nos Faguet, no começo do Século XX que a leitura é essencialmente a arte de pensar; uma arte que requer de quem a pratica esmero e exigência, foco e propósito, valores ausentes em nosso tempo – esse tempo que cultua a riqueza e a intranquilidade.
Ele via o livro como amigo e benfeitor, não apenas como uma mera distração duma multidão de tolos que se deixam guiar por modismos e propaganda e se mostra incapaz de ver o livro e a leitura como motores do espírito e azimute da inteligência. Recomendava-nos, pois, que se faz necessário ler devagar. Seguia à risca a velha lição de Horácio: “revolve muitas vezes o estilo, se desejas que aquilo que hás de escrever seja digno de ser lido duas vezes e não sofras porque a turba te admira; sê satisfeitos com poucos leitores.”