*Alexsandro Alves
Dar nome pra um gato não é brincadeira,
não é dessas coisas normais de vocês;
pode até parecer exagero, ou doideira,
mas é pouco um só nome, ELES TÊM QUE TER TRÊS!
Assim Eliot inicia seu livro O livro dos gatos sensatos do velho Gambá, de 1939. Eliot, que foi um amigo dos leões de jardim, sempre teve em sua casa vários, escreveu esses poemas que mais tarde se tornariam um musical da Broadway nas mãos de Andrew Lloyd Webber, Cats.
Mas de fato, dar nome a um gato não é tarefa fácil. Estamos falando de animais que foram deuses no antigo Egito e que, portanto, se sentavam no colo (e no trono) dos faraós!
Claro que a fofura com a qual nos referimos a eles, inclusive em um momento histórico tão importante, não retira a seriedade da questão: os gatos são deuses! Basta olhar para eles que sentimos isso. Pelo caminhar, pelo balançar da cauda, pela leve distração do tempo ao redor deles, é tudo arcano.
O cachorro é o melhor amigo do homem, mas o gato será sempre gato!
Por isso que devemos escolher seus nomes como se escolhêssemos o lugar de assentamento de uma escultura sagrada.
Isso faz toda a diferença para um gato e determina mesmo a qualidade do amor que o gato, misericordioso, dispensa para seu humano.
Quantos desses pequenos faraós perdem até o desejo de levantar a cauda de sua altivez quando lhes assentamos nomes tão comuns quanto Mimi.
No Egito, seu nome era Bastet! A grande gata que garantia os frutos da colheita!
E hoje, quando vemos, nesse mundo descrente, esses deuses revirando latas de lixo, é muita humilhação.
Quando o gato se permite entrar na sua pirâmide doméstica, chamada de casa ou apartamento pelos humanos, ele carrega consigo toda a magia ancestral que repousa serenamente sobre ele, devemos ser gratos por isso. Esses movimentos felinos fascinaram a sensibilidade e a religiosidade egípcia, e agora estes mistérios estão disponíveis em qualquer lar doce lar.
Olhe nos olhos de seu gato e desvende seu nome. Há um nome secreto lá guardado e apenas iniciados terão acesso a esse mistério. O gato sabe o nome, o nome dos nomes!
Mas se você não conseguir desvendar, não fique triste. Apenas poetas podem abrir as portas de tal conhecimento. Os poetas evoluíram ao nível de Bastet. Sua alma ronrona por palavras mágicas e seu ócio se debruça sobre o tapete da sala enquanto o pequeno faraó abana a cauda de felicidade.
A poesia! É o olhar felino concedido ao homem para que possa contemplar e sentir, por um breve momento, o que é ser um deus, o que é ser um gato e todo o seu poder.
Caso desvendássemos o mistério do nome felino, seria algo como escrever um poema, sem dúvida alguma.
Na tranquilidade desses faraós mora o silêncio que guarda o som de seu nome. À noite, quando a Lua entrar pela janela de tua sala, espreguiça-te juntamente com teu gato – Bastet está na Lula e, no chão, fixe o seu olhar no olhar do felino… E aguarde a Esfinge olhar para você.
E quando resgatar um deus ou uma deusa das ruas, saiba que o nome está lá, em seu olhar e em sua expressão altiva. Desvende o nome do gato.