*Franklin Jorge
Por convicção, não gosto de politico que muda de partido. Já o vejo, de antemão, com desconfiança, pois a mudança pressupõe leviandade, interesses contrariados ou coisa pior. A propósito, lembro da dificuldade que tive para explicar a um dos Curadores do Museu de Arte Pura de Boston, que então nos visitava naqueles já remotos anos de 1980 sobre esta pratica que entre nós se tornou corriqueira e vulgar, a ponto de passar despercebida dos eleitores que em síntese votam, não em Partidos, mas em pessoas, e pelos mais diversos e questionáveis motivos, dentre os quais, por ser o candidato ‘’bonito’’, ‘’jovem’’, ‘’por falar bem e explicado’’, por ser ‘’vizinho’’ ou parente de alguém. ninguém quer saber se o cara presta, se é honesto, se tem propostas e se cumpridor de compromissos.
Três coisas, nessa visita de Kip Chenian ao Brasil, chamaram a sua atenção. O cobongó, que lhe pareceu um achado de grande funcionalidade para a arquitetura moderna, algo de fato, para ele, genial; a capacidade inventiva das crianças brasileiras de construir brinquedos a partir de latas de leite vazias, por exemplo; pranchas com talos de coqueiro e outras soluções que seriam a prova concreta da grande inventividade do povo brasileiro, fadado, segundo me disse, para grandes saltos que marcariam a história do mundo.
A terceira coisa pareceu-lhe inqualificável distorção de caráter, no entanto, a seu ver, aparentemente banal aos olhos dos brasileiros que sequer se tocavam da gravidade do fato. Nos EUA, afirmou, nenhum político ousaria trocar de partido, pois isto significaria ser banido pronta e imediatamente da vida política. Ninguém confiaria em politico que trocou de legenda. Confesso que não pude explicar-lhe esse mau costume político de maneira satisfatória. ’’Se muda de partido, perde a confiança e passa a ser visto como um mau caráter ou um traidor de suas convicções’’.
Outra coisa que o chocou em Natal. O monumento a Luís da Câmara Cascudo, no Centro histórico de Natal. Ao deparar-se com a estatua sobre a chamada ‘’mão-molenga’’, não controlou um frouxo de riso e quis saber quem seria aquele homem e que mal fizera à cidade para ser chacoteado daquela maneira ridícula. Disse-lhe que se tratava de nosso escritor mais eminente. Ele deplorou mais ainda a homenagem e comentou: ‘’É assim que Natal trata seus escritores, ridicularizando-os…?’’, comentou, sem acreditar no que via. Graças Deus, por essa época, a Assembleia Legislativa ainda não tivera a jocosa ideia de homenagear a memória de José Augusto de Medeiros…