*Vitor Bertini
iCloud, sexta-feira, 14 de janeiro de 2022.
Olá.
“Primeiro, o Arnaldo deveria informar-se sobre a rosa-do-deserto. Só depois, mudar-se para a praia.”
Este foi o curioso e-mail que recebi – não conheço nenhum Arnaldo, não tinha a menor noção do que pudesse ser uma rosa-do-deserto e moro nas nuvens, não na praia.
Decidi fazer uma pesquisa. E um texto.
“A rosa-do-deserto, também conhecida por adenium, é uma flor que vem conquistando cada vez mais admiradores por sua beleza impressionante. Deve ser cultivada em ambiente iluminado e necessita bastante água.”
O texto eu ainda não fiz.
Entre flores, textos, goles e beijos, boa leitura e bom fim de semana.
PALCO
Júlia pula, corre e rodopia.
– Esta menina não se entrega.
– Filha, agora para.
Júlia ouve e não sossega.
– Mãe? Não enxerga.
– Minha filha, hora da cama!
Júlia acorda, sorri, pula, corre e rodopia.
– Mostra os desenhos, vai que acalma.
– Filha, olha que lindos!
Júlia olha, diz que sim – e não para.
– Na escola vai acalmar-se.
– Tomara!
Do uniforme, Júlia adora a saia.
– Moleca, dá um abraço, vem.
Júlia abre os braços, corre e se deixa abraçar. Elevada por mãos fortes, na entrada da sala de aula, sente a vida rodar.
– Você vai gostar.
Crianças. Crianças:
– Quem é a Juju-Corre-e-Gira? Quem seria? Quem seria?
Júlia não senta. Não consegue acompanhar.
– Chamaram no colégio, querem falar.
O Conselho de Classe foi unânime:
– Procure ajuda.
– Vou procurar. Talvez eu não quisesse enxergar.
Fim da consulta. Na sala de espera, Júlia sorri e foge da rima.
– O que ela tem doutor? O que não enxerguei na minha menina?
– Nada grave. Ela é bailarina.
DIÁLOGOS DE ELEVADOR
– Você tem compartilhado alguma coisa?
– Angústias, eu acho.
– Experimenta com a história de hoje. Vai que ajuda alguém.
- O texto de hoje é uma ficção inspirada na vida da bailarina e coreógrafa inglesa (Catse Fantasma da Ópera), Gillian Lynne;
- A História da Sexta é um hebdomadário¹;
- Mensagem na garrafa: você que chegou até aqui por curiosidade, gosto ou preguiça, ajude o autor clicando em qualquer botão vermelho perdido por aí. Sério.
– Ah! Léon!… Realmente… não sei… se deva!…
Fez um trejeito. Depois, com ar sério:
– Isto é uma grande inconveniência, sabe?
– Por quê? – Replicou o escrevente. – Isto se faz em Paris.
E estas palavras, como argumento irresistível, decidiram-na imediatamente.
– Madame Bovary, Gustave Flaubert, Editora Abril, 1971