*José Nicodemos – Escritor, Jornalista Filólogo
Sono demorando a chegar, fico impaciente e vou à estante a escolher alguma coisa para distrair o tempo. Batem-me os olhos, à primeira vista, no Ficções Fricções Aficções de Franklin Jorge. Pronto, eis o livro, mais do que tudo, para renovar-me no gosto da prosa limpa desse grande escritor nosso. Dos poucos, pouquíssimos, autores potiguares que ainda leio, e de leitura que posso dizer frequente.
Dele, disse muito bem o nosso (de Mossoró) Jaime Hipólito Dantas, “um artista da palavra”. A propósito, quem que, por estas bandas e além delas, escreveu, ou escreve, melhor do que Jaime, contista e ensaísta literário melhor entre os melhores? E fique bem claro: exigente como era, e mais positivo, não lhe fez Jaime favor de amizades.
Não lhe era do temperamento o falsear valores em nome desses rompantes, sem outro propósito que não fosse o de afagar a mediocridade vaidosa. Bem; não esqueci o que ia dizendo. Seja: a leitura do Franklin Jorge, não como espantalho da insônia, no que cometeria um sacrilégio literário, e sim pelo prazer estético que esse grande escritor costuma trazer-me, até num simples bilhete.
Pois bem; estou a pensar neste momento em que escrevo, na facilidade com que escritores medíocres, ou bem abaixo disso, conseguem grande público, inclusive com destaque em resenha crítica, algo assemelhada ao brilho de colunas sociais. E penso isso sem abrir mão da minha maneira franca de encarar as coisas, isto da louvação fácil, isto é, como traição de mim mesmo. Se não gosto…
Uma digressão para largo elogio ao Ceará fazendo compor a lista de autores para o exame vestibular os seus melhores autores, em prosa e verso, antigos e contemporâneos. Aos quais, justiça lhes seja feita, em nada ficam a dever, prosadores, Franklin Jorge, do Ceará Mirim, e os mossoroenses Jaime Hipólito Dantas e Dorian Jorge Freire. No universo mágico da poesia – R. Leontino Filho.
E nós, aqui em Mossoró, particularmente? Ah, nem se fale. Uma vez que se deu vez a escritor prata da casa, em programa do vestibular, foi para humilhar os legítimos valores locais. O que digo? Diminuir a própria cidade, com o perdão da palavra franca. Não sei fazer do sambenito gala, é isto. Bem; deixem-me volver à arte do grande escritor nosso, que é esse enorme Franklin Jorge.
*Transcrito do jornal De Fato [Mossoró, 24 de novembro de 2011]