*Da Redação
A inexistência de políticas culturais tem resultado em grandes prejuízos à Cultura da cidade, que apesar disto se jacta de ser um endereço turístico. A prova de tal descaso aí está: o tombamento, em sentido literal e não figurado, do Monumento ao Centenário da Independência erguido em 1922 pelo governador e escritor Antônio de Souza, um dos grandes intelectuais de sua geração, autor da epígrafe em Latim gravada em bronze. O conjunto escultórico, fundido em Paris, está chantado à Praça Sete de Setembro, em frente ao Palácio Potengi, então a sede do Governo do Estado, e ladeado pelos edifícios do Tribunal de Justiça e Assembleia Legislativa , não tem merecido os cuidados necessários . O fato tem provocado revolta e indignação aos natalenses, já calejados por sucessivos descuidos dos governantes em relação aos nossos logradouros e à preservação de monumentos, além de escassos geralmente de profundo mau gosto, de que é exemplo a estátua do ex-governador José Augusto de Medeiros, imortalizado sob a forma de um anão grosseiramente executado por um artesão sem talento e sem técnica.
Nada mais elucidativo desse descaso dos sucessivos governantes em relação à preservação do patrimônio artístico e cultural, sempre à mercê de gestores despreparados ou que em algum momento serviram aos apetites, inclusive sexualmente, de uma gente que detém prestigio ou poder. já vandalizado por grafiteiros, o monumento parece que ter sido despojado dos medalhões em bronze que adornavam seu pedestal.
Há gerações a cidade sofre com as consequências dessa cultura já estratificada que nenhum governante tem ousado corrigir ou racionalizar em escolhas adequadas aos interesses da coletividade. É o caso da Fundação Capitania das Artes e Secretaria Municipal de Cultura, que confunde a realização de eventos efêmeros com ações culturais sérias baseadas no uso e na difusão do Conhecimento que é o azimute de toda cultural seriamente encarada como tal. Vemos assim, governo após governos, as mesmas pessoas repetindo as mesmas práticas, muito distantes, por exemplo, da restauração e preservação de um patrimônio que em vez de aumentar, para o engrandecimento da cidade, diminui e desaparece, como desapareceu sob a gerencia da professora Isaura Amélia Rosado maia a Oficina de Gravura Rossini Quintas Perez e peças do acervo do Museu Café Filho, sem que nenhuma ação fosse aberta pelo Ministério Público para apurar responsabilidades.
O secretário de Cultura do município, Dácio Tavares Galvão, agraciado com a imortalidade acadêmica, precisa ser responsabilizado por sua falta de zelo para com o patrimônio artístico, cultural e histórico de Natal algo capaz de faze-lo cair na real e compreender que não é papel de sua pasta promover festas, mas atuar de maneira constante e didática no sentido de promover o conhecimento e o respeito aos valores que nos representam, como o Monumento erguido pelo governador Antônio de Souza, em 1922, em comemoração ao Centenário da Independência, agora, literalmente, no chão, como no chão se encontra há anos a cultura da nossa terra.