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Deus salve a rainha

Promotora de Justiça do Estado do Rio de Janeiro desde 1997, Articulista perfila de maneira sucinta e precisa a rainha do Reino Unido recentemente falecida.

*Erika Figueiredo

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Elizabeth Alexandra Mary Windsor, mais conhecida como em 08 de setembro, Elizabeth II, Rainha da Inglaterra, faleceu na última semana, aos 96 anos de idade, de mal súbito, no Castelo de Balmoral, na Escócia. Foi ao encontro de seu amado esposo, príncipe Philip, que faleceu no ano passado.

A trajetória desta soberana, que reinou por setenta anos, tendo subido ao trono de modo inesperado, muito nos ensina acerca de legado, senso de dever e assunção de responsabilidades, e marcou, indelevelmente, o século XX, sendo, juntamente com Ronald Reagan, Margaret Thatcher e Winston Churchill, uma das grandes personalidades políticas de sua época.

O pai de Elizabeth, Rei George VI, foi rei por acaso. Seu irmão, Rei Edward VIII, renunciou ao trono subitamente, para casar-se com uma americana divorciada – Wallis Simpson – fato este impeditivo da manutenção do título e da função. Em decorrência disso, George tornou-se rei, muito embora não tenha sido preparado para assumir tal encargo.

Ocorre que o Rei George faleceu precocemente, em 1952, de um câncer no pulmão, tendo reinado por um curto período. Coube à sua filha mais velha, Elizabeth, casada e com um filho pequeno, sucedê-lo no trono inglês, sendo coroada, como soberana do Reino Unido, em 1953.

Para a nova Rainha, tratava-se de um fardo enorme. Afinal, da mesma forma que seu pai não fora preparado para ser Rei, esta jamais supusera tornar-se Rainha, posto que a linha de sucessão inglesa é totalmente voltada para o primogênito, seja este homem ou mulher. O Rei Edward, no entanto, abdicou, sem haver concebido herdeiros, o que abriu o caminho para a família de seu irmão.

Elizabeth assumiu o trono aos 25 anos, em um período extremamente conturbado, pós Segunda Guerra Mundial. A Europa juntava seus cacos, a economia ia de mal a pior, a tensão entre a URSS e os países ocidentais era latente, e neste cenário, essa jovem sem qualquer experiência em relações políticas ou diplomáticas, surgia.

Em uma viagem à África do Sul, foi comunicada sobre a morte de seu pai, e de sua ascensão ao trono. Seu discurso de coroação foi transmitido pelo rádio, e neste a Rainha comprometeu-se a dedicar sua vida ao reino Unido. E assim o fez. Estudou sobre os assuntos que não dominava, aconselhou-se com pessoas às quais admirava, foi humilde e sábia, como grandes líderes devem ser.

Muitas vezes incompreendida, até mesmo pelo esposo, sentia-se solitária e sobrecarregada. A série The Crown tornou-se uma febre mundial, justamente por descrever as dificuldades e os desafios desta que, tão jovem, tornou-se a Rainha mais popular da modernidade.

De comportamento austero e temperamento discreto e bastante reservado, Elizabeth fez o que é esperado de uma Rainha: reinou. Jamais agiu de modo intempestivo ou escandaloso. Priorizou a manutenção da imagem e da unidade do Reino, tomando decisões que contrariavam, inclusive, sua própria família.

Buscou uma vida ordenada, fugiu de vícios e de prazeres desmedidos, refugiou-se no campo por inúmeras vezes, exercitou a fé e a compreensão outras tantas. Foi julgada, mal interpretada, odiada. Mas também foi muito amada por seus súditos, que confiavam em sua Rainha e admiravam-na.

Nos inúmeros conflitos e escândalos familiares que foi instada a dissolver, agiu com dignidade e discrição. Sofreu inúmeros golpes, muitos destes advindos do seio de sua própria família. Imagino que tenha se entristecido em muitas ocasiões, silenciosa e solitariamente. Afinal, a liderança traz consigo o isolamento. Não deve ter sido fácil.

A Rainha teve um papel preponderante e decisivo em muitas situações históricas do século XX. Buscou a paz e a união entre as nações, e mesmo em momentos extremos, como o da Guerra das Malvinas e os conflitos envolvendo a Irlanda do Norte e o grupo extremista IRA, manteve a calma e buscou decidir com equilíbrio.

Viu o nascimento de netos, bisnetos, sobrinhos. Vivenciou a morte súbita da Princesa Diana, precedida por uma crise de proporções enormes, face às revelações feitas pela princesa, de que o marido a traía com Camila Parker Bowles, hoje Rainha Consorte, casada com o Príncipe Charles

Charles assumiu com Rei, aos 73 anos de idade, em um momento delicado para o Reino Unido. Na mesma semana, este sofreu o impacto das mudanças em dois cargos importantíssimos: o de Primeiro Ministro e o de Soberano. No primeiro caso, pela renúncia de Boris Johnson, e no segundo, pelo falecimento da Rainha.

Há especulações de que, face ao temperamento retraído, ao peso dos escândalos do passado e à idade avançada, Charles renunciará em favor de seu filho, William. O tempo dirá. Por ora, cabe ao Rei manter a ordem, a unidade e o equilíbrio dentro de seu Reino, tendo como exemplo o comportamento de sua mãe e o imenso legado por ela deixado. “God save the king”!

“Sempre foi  fácil odiar e destruir. Construir e estimar é muito mais difícil.” Rainha Elizabeth II

TAQUE: Retrato da rainha Elizabeth 2a por Claudia Lange, artista argentino-americana.