*Alexsandro Alves
A cena poderia ser de um livro de Lima Barreto.
Um bando de letrados que se masturbam mutuamente em troca de um prestígio já perdido, de um brilho sem viço, ilegítimo e desavergonhado. Em cena, o prefeito de Natal, Álvaro Dias, que destinou R$ 200 mil para a Academia Norte-rio-grandense de Letras (ANL) do amigo, o presidente da instituição Diógenes da Cunha Lima, um professor universitário, Luís Eduardo Suassuna, e, claro, um funcionário da administração municipal, Dácio Galvão, secretário de Cultura.
Ou seja: o chefão, o amigo do chefão, um professor caricato e um xeleléu de administração de município.
Juntas, essas quatro figuras encarnaram ontem, segunda-feira, 24 de julho, um famoso ditado popular: e a vaca foi pro brejo… seguem trechos de seus discursos…
Álvaro Dias: Nesta noite tão especial, tenho de admitir com absoluta sinceridade, este é um momento de profundo orgulho pessoal. Mas de um orgulho sem soberba, forte e verdadeiro, aquele orgulho que comove e emociona o coração humano. Deus sabe o quanto sonhei e lutei, com os humildes limites de minhas forças, para viver este dia e este momento, que para mim representa um dos instantes mais importantes, solenes e sublimes da minha vida.
Com os humildes limites de minhas forças, para viver este dia e este momento, é um zombador. Destinou, antes de ser eleito, R$ 200 mil para ANL. E fala de humildes, percebam que antes fala de orgulho pessoal, o prefeito tenta esconder a canalhice do momento, mas não consegue. O ego o denuncia através dessa sequência de palavras que se contradizem.
Diógenes da Cunha Lima: A Academia se enriquece com a presença do prefeito de Natal, que é ao mesmo tempo um senhor escritor, pesquisador e leitor diário, por tudo isso só vai somar à Academia e continuar uma linhagem de historiadores. Álvaro Dias mostrou em toda a sua trajetória que é um homem inteligente e dinâmico, por isso é muito importante a presença dele entre nós Acadêmicos.
A Academia se enriquece, bem… se tomarmos essa frase ao pé da letra, veremos que o amigo foi até sincero. Diógenes usa termos bem duplos, além de se enriquece, senhor escritor, só pode ser levado a sério se atentarmos para a idade do prefeito…
Dácio Galvão: A chegada do prefeito Álvaro Dias como novo Acadêmico é muito importante por ser uma pessoa ligada às raízes culturais do Seridó, uma região que é um símbolo de uma cultura forte, sertânia, e que se atualiza com a presença do acadêmico Álvaro Dias em seus quadros.
Será que ele escuta o que fala? Se atualiza é mais uma para a fanfarronice descarada de uma gente esnobe, petulante e, sobretudo, velhacos de nossa literatura.
O melhor é o professor:
Luís Eduardo Suassuna: o prefeito tem muita semelhança com o patrono de sua cadeira: Luís Carlos Wanderlay. Ambos médicos, escritores e do interior do estado…
É só o que se precisa…
Em resposta, o novo acadêmico soltou uma:
Álvaro Dias: Eu prometo continuar lendo…
Eu prometo, pois afinal, ele não poderia esquecer suas raízes, aquelas, políticas…
E é tudo política. Nunca literatura. E falando em política, esse orgulho pessoal, como frisou o prefeito, está no site da prefeitura…