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Djamila Ribeiro dialoga com J.K. Rowling

Colaborador de Navegos expõe sobre as militâncias e os movimentos coletivistas modernos a partir de mais uma polêmica preconizada por Djamila Ribeiro, que quebrou a internet com seu lugar de fala, e agora quebra a mentalidade coletivista com declarações perturbadoras para a internet e para as redes sociais, sempre preocupadas com a diversidade de escritório e, cada vez mais, em arrumar novos significados para palavras antigas, e novas palavras para questões já conhecidas.

*Alexsandro Alves

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Djamila Ribeiro é uma autora ligada ao movimento feminista negro. Mulher polêmica, declarou que Marx nada acrescenta à luta antirracista, foi garota propaganda de uma empresa acusada de racismo, a 99, causou estardalhaço ao se referir a uma outra militante negra, Letícia Parks, que possui na cútis um tom negro mais claro do que dela, como “Clarinha de Turbante”, ao passo que Parks, educadamente irônica, disparou: “parece que a Djamila se atribuiu o direito de decidir quem é negro”. Capitalista sem pudores, Djamila desfilou para a Prada, ostentando uma bolsa de R$ 16.000,00! Prada é aquela empresa que já se desculpou centenas de vezes por, segundo ativistas negros, comercializar produtos racistas, como na vez em que lançou chaveiros com figuras de pessoas negras e foi acusada de “blackface”.

Agora, a autora de “Lugar de Fala” e “Pequeno Manual Antirracista”, dialoga com outra escritora, a branquíssima J. K. Rowling, a inglesa criadora de Harry Potter. Djamila acompanha o pensamento da inglesa com relação às mulheres transsexuais ou aos homens transsexuais. Para a feminista negra, o uso de “pessoas que menstruam” ou “pessoas que engravidam” e expressões semelhantes, apagam a mulher. Isso tem parentesco com o que a inglesa branca polemizou sobre “mulheres menstruam”. Para parte dos atuais movimentos feministas e LGBT+, o uso de “pessoa”, em vez de “mulher”, é uma forma de inclusão. Porque mulher, ou homem, não se define apenas por questões biológicas, muito menos genitais. Há mulheres com pênis, há homens com vagina. Sendo assim, homens e mulheres menstruam.

Imediatamente, Djamila foi alvo de toda a militância da internet. “Transfóbica”, era a palavra que mais tinha vez nas expressões espantadas da contemporaneidade antenada. Djamila é vítima do monstro que ajudou a criar. Esse “lugar de fala”, essa “diversidade”, compartimentou a palavra. Prenderam significados e quem afirmar algo que soe minimamente contrário, é apedrejado. Sem diálogo. Ao aprisionar a palavra em novos significados, ainda não socialmente aceitos, e impedir o diálogo acerca disso, todo o discurso torna-se raso, pobre, periférico. Um novo significado em qualquer palavra já conhecida, precisa de tempo e debate para ser maturado e aceito. Impor como uma verdade nova não funciona. Ninguém é obrigado a aceitar coisa nenhuma, seja oriunda de indivíduo ou de coletivos.

Será que Djamila, que é mulher, tem lugar de fala para falar que “pessoa” apaga “mulher”? E como fica a questão do feminismo negro, dito interseccional, preconizado por Ângela Davis e pela própria Djamila, agora que Djamila abre essa fenda no debate, contrariando as questões de gênero que são uma camada nessa interseccionalidade? Essa fenda no debate feminista já aberta com as feministas radicais, as radfens. Uma radfem preconiza que apenas é mulher aquela que tem vagina desde o nascimento. Sem mais. É mais ou menos o caminho de falas como as de Rowling e Djamila. Do ponto de vista semântico, chegamos a uma encruzilhada nunca antes tencionada contra as pessoas (homens e mulheres, por favor)? Aliás, desculpem o binarismo. Encruzilhada não, verdadeira malha rodoviária com pontes, viadutos e dezenas de pistas duplas de mãos duplas, triplas, quádruplas…