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Do amor aos livros

Bibliófilo medieval, escreve sobre o privilégio imortal dos livros e a verdade eterna da mente. O que se segue é um excerto de seu tratado Filobiblion, de 1345.

*Richard de Bury

Nos livros, encontro os mortos como se estivessem vivos; nos livros posso ver o futuro; questões de guerra são expostas nos livros; dos livros nascem as leis da paz. Todas as coisas apodrecem e se decompõem com o tempo; Saturno não para de devorar os filhos que gera; toda a glória do mundo estaria enterrada no esquecimento se Deus não tivesse concedido aos mortais o remédio dos livros.

Alexandre, o conquistador da Terra, e Júlio, o invasor de Roma e do mundo, ficariam sem fama sem a ajuda do …Almagesto: Ele não está morto, diz ele, que deu vida à ciência.

Quem, portanto, limitará o preço do tesouro infinito de livros dos quais o escriba erudito tira coisas novas e velhas? A verdade que triunfa sobre todas as coisas – que conquista o rei, o vinho e as mulheres, que é considerada sagrada e honrada antes da amizade, que é um caminho sem volta e vida sem fim, que santo Boécio considera tripla em pensamento, fala e escrita – parece continuar a ser mais útil, frutífero e tem maiores lucros nos livros. Porque o significado da voz perece com o som. A verdade latente na mente é a sabedoria que se esconde, o tesouro que não se vê, mas a verdade que brilha nos livros quer se manifestar com força em todos os sentidos. Melhora a visão quando é lida, o ouvido quando é ouvida e também o tato quando é submetida a transcrição, encadernação, correção e conservação.

A verdade escrita dos livros, não transitória, mas permanente, se oferece para ser observada e, através das esferas permeáveis ​​dos olhos, que passam pelo corredor da percepção e pelos tribunais da imaginação, entra na câmara do intelecto, tomando seu lugar no divã da memória, onde engendra a verdade eterna da mente.

Richard de Bury (1287–1345) foi um escritor, bibliófilo e um dos primeiros colecionadores de livros da Inglaterra. Depois de estudar na Universidade de Oxford, ele se tornou um monge beneditino e bispo de Durham de 1333 a 1345. Ele é lembrado principalmente por seu trabalho Philobiblion, escrito para ensinar ao clero o amor pelos livros – um dos primeiros a discutir exaustivamente a atividade da biblioteca.

*Os trechos que compartilhamos têm como único propósito a divulgação literária e artística. Os direitos reservados sobre essas obras correspondem ao seu autor ou proprietário.