*Alexsandro Alves
Muitas vezes, quando estudamos hábitos de povos antigos, nos deparamos com situações que viram nossas certezas pelo avesso.
Mestre Cascudo nos fala de um momento assim quando observa nossos hábitos de consumo de bebidas.
Tradicionalmente, bebemos socialmente. Isso significa que bebemos pouco, com parcimônia e nunca ultrapassamos o limite de podermos, bebendo, dialogar. Em tese, claro…
Nós temos momentos para beber e são muitos e bem recortados. Numa solenidade, após a refeição, numa conversa informal, para comemorar uma vitória, para lamentar um fracasso… Bem, parece que bebemos sempre. E é. De fato é assim.
Com os indígenas isso é diferente, pra variar, certo?
Eles praticamente, durante todo o ano, não consomem bebidas alcoólicas. Há um momento em cada ano em que passam três dias bebendo sem parar, mas no decorrer do ano, se abstêm. O indígena não observa a bebida como mero prazer, precisa haver uma necessidade além disso. Mesmo quando nesses rituais de três dias eles bebem sem parar, quase nenhum fica ébrio. Indígena bêbado é fruto ocidental.
As bebidas indígenas têm mais a ver com a saúde do que com o prazer de uma noite sociável com amigos. A bebida precisa dar sustança ao corpo. Por isso suas bebidas preferidas são sempre caldos fortemente energéticos a base de mandioca com acréscimo de frutos dos rios, peixes e camarões, por exemplo.
Há uma fruta pouca conhecida no país, mas muito popular no Maranhão, chamada juçara, semelhante ao açaí, que de seu suco se produz um vinho e ao tomar esse vinho o indivíduo tem força e resistência para o dia inteiro, não necessitando de qualquer outro alimento.
Quando os portugueses desembarcaram no que imaginam serem a Índia do oriente, encontraram hábitos que causariam admiração e também repugnância.
Nessa segunda categoria, estava o hábito indígena de mastigar as frutas com o qual preparavam sucos e depois cuspi-las e misturá-las a água. Isso causou deveras impressão negativa nos europeus. Imaginem…