*Marlos Nobre
Quando fiz 50 anos, lembro bem que foi uma grande comemoração, algo marcante, uma cantata encomendada pela Espanha e estreada em Londres, mais de uma centena de concertos. Claro que tudo isso me projetou, além do Prêmio Tomás Luis de Victoria. Sinceramente, não sou muito ligado a efemérides. No entanto, algumas sempre têm um significado especial, marcam etapas. Esta, por exemplo, de meus 80 anos: eu, falando com franqueza, não me liguei muito na data. Com a agenda vertiginosa que tenho, não dá para ficar pensando nisso. Entretanto, essa de 80 anos e 60 anos de atividade de composição é algo evidentemente significativo para mim. Mostra que a força da própria música está inteira, imaculada, em meu cérebro. O mais importante para mim é o fato de sentir a força da criação intacta, plena e igualmente intacta minha capacidade de transmitir para o papel as mais complexas ideias imaginadas. Compus esse novo Concerto para violoncelo em cerca de três meses, entre meados de dezembro de 2018 e início de março de 2019. Ao escrevê-lo, eu, como sempre faço, coloco em prática dois passos fundamentais: o primeiro é a concepção mental total da obra e o segundo, a criação dos detalhes, ou seja, a escritura. Como criador, sempre insisto nestes dois aspectos.
De uma entrevista para a revista Concerto