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Do mundo como ideologia e representação (2)

Colaborador de Navegos  da continuidade e aprofunda uma questão que perturba e inquieta os seres humanos.

*Alexsandro Alves

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A parte anterior desse artigo está aqui: https://www.navegos.com.br/do-mundo-como-ideologia-e-representacao/

Uma mudança de fato só pode ser operada a partir da mudança da linguagem. Não é uma guerra ou uma revolução armada que muda o homem. Pode mudar o meio ambiente, pode mudar a forma de governo, o homem, não. O pensamento é a instância última do humano, e pensamento é signo: significante e significado, que são expressos em palavras.

É a palavra, o “logos”, que muda o todo. Que dá vida, que dá morte. Elohim disse: “Haja luz”, e houve luz. No Novo Testamento Jesus é o “Verbo de Deus”, aquele que traz a vida. Mais do que religião ou crença, estas sentenças expressam a potência socializante que há na palavra. O que é, só foi e é, porque foi expressado antes em frases.

Se a frase, dada a ser formada por palavras, é um conjunto de signos (significante e significado), o signo por sua vez só tem razão de ser, sentido, social. Então, dentro de uma engenharia de controle social, a prioridade é mudar a linguagem, mudar seus signos, estabelecendo novos significados. A partir da mudança na parte abstrata do signo, temos novos humanos.

Um exemplo simples. Outros exemplos, mais complexos, ficam a critério das capacidades de cada um.

Por usar óculos, me chamavam de “quatro olhos”. Eu, para descontar, também apelidava. Hoje isso é “bullying”, hoje leva ao suicídio, por quê? Por que passávamos com tranquilidade por essas situações e hoje as crianças precisam de psicólogos? Porque a sociedade introjetou signos diferentes nos adultos e nas crianças. Hoje se olha com horror para brincadeiras assim, se leva a sério demais o ato de ser tolo. Criaram-se necessidades que são laboratórios de experimentos sociais de amolecimento cultural.

Na minha época de garoto costumávamos brincar, na hora do recreio, de “marinheiro”. Um garoto ficava de costas para uma turma de garotos, com as mãos e o rosto na parede e os olhos fechados. Então, vários da turma desferiam golpes com as mãos nas costas do “marinheiro”. Este precisava descobrir quem desferiu o golpe. Se não conseguisse, apanharia mais, até descobrir. Caso descobrisse, o agressor era o novo “marinheiro” e assim por diante. Uma brincadeira assim, hoje, é motivo para despertar a tristeza geral na sala dos professores. Aprenderam a ser indignar com brincadeiras agressivas de púberes.

Não resisto. Darei um exemplo mais complexo e mais amplo.

A Amazônia pertence a quem? Imagine um discurso em alguma cúpula do meio ambiente, e alguém vem com uma dessas: “A Amazônia pertence ao Brasil, em sua maior parte. É dos brasileiros e apenas eles podem saber o que fazer direito com ela”. Posso colocar um sorriso maroto no canto rosto? Eu lembro que, na década de 90, um político, que infelizmente não lembro o nome, ousou afirmar isso para uma plateia nos Estados Unidos. A mídia brasileira aplaudiu! Um democrata! Hoje, se um indivíduo ousar dizer que Macron, que Greta Thunberg e que DiCaprio não têm direito de dar opinião no que é do Brasil, é fascista. Estão mudando as palavras na nossa cara, na cara dura, sem vergonha na cara.

(Continua)…