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Dona Gena do Açu e seu amigo filósofo

Fundador de Navegos, em um fragmento, escreve sobre personagens que marcaram o Açu, em livro inédito.

*Franklin Jorge

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Praça Getúlio Vargas, 19

Dona Gena [Maria Eugênia Maceira Montenegro], escritora mineira radicada no Açu por 70 anos, teve no poeta João Lins Caldas [1888-1967] a partir dos 24 anos, um Mestre que a guiou e inspirou por toda a vida.

Ali o conhecera, na casa de seus sogros. Tinha Seu Caldas grande apreço pelos parentescos. Fora injusta e sumariamente aposentado de suas atribuições no Ministério de Viação e Obras, pelo ministro José Américo de Almeida, que desejava se prevenir de futuros e inevitáveis aborrecimentos. Seu Caldas passou a odiá-lo e desferiu-lhe uma saraivada de desaforos telegráficos.  Aconselhou-a a escrever em prosa; uma prosa amamentada pela experiência.

Conversando, em caminhadas, cavalgadas e sob os alpendres rurais, ouvia-lhe as confidências, os comentários e os conselhos acerca do engenho criativo e o uso adequado de recursos como a reiteração. Terá sido, provavelmente com José Geraldo Vieira – que o imortalizaria sob a figura do poeta Cássio Murtinho -dos primeiros leitores de Nietzsche no Brasil, quando o filósofo não tinha nenhum livro publicado ou propagado entre nós.

Seu Caldas era um grande andarilho. Andava equipado, de paletó e gravata, sob um chapéu, portando embornal e espingarda, além de um pequeno bloco de notas e esferográfica ou lápis de grafite. Admirava O mundo como Vontade e Representação. Discorria com entusiasmo sobre Nietzsche e Schopenhauer.

A bela senhora o ouvia com devoção e encantamento.

[Continua]

 

 

*Fragmentos do livro Paraísos de Papel [inédito]