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Dor de corno

Colaboradora de Navegos escreve sobre uma dor de muitos conhecida, que não é física mas moral, e já rendeu até a confecção de dicionários, composições musicais, versos e associações. A dor da traição amorosa que dó tanto quanto uma dor física.

*Nadja Lira

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Há momentos na vida de cada ser humano, em que sentimos a necessidade de nos recolher e fazer uma viagem ao nosso interior, para desfrutarmos de nosso próprio eu. Especialmente quando a pessoa está sofrendo com uma das piores dores já experimentada pelo ser humano: A dor de Corno.

Nessas ocasiões existem os que procuram o silêncio existente no interior de uma Igreja. Outros preferem ficar trancados dentro do seu próprio quarto, enquanto existem aqueles que escolhem passear à beira-mar e nem se dão conta de que as ondas que quebram na praia, entoam uma encantadora sinfonia para uma plateia formada por uma única pessoa, que não lhe dá atenção.

Todos aqueles que padecem com essa dor, sentem a necessidade de se recolher por um tempo e assim, procuram se afastar do barulho estrondoso que nos cerca diariamente. Recolhido dentro de si mesmo, tentam esquecer sua desdita e recarregar as baterias, adquirindo novas forças para enfrentar as dificuldades inerentes à vida que, independentemente de sua dor, segue seu curso normalmente.

Então, nada pode ser melhor do que fechar os olhos e esquecer o barulho dos carros e de suas buzinas, indicando que seus condutores estão atrasados para algum compromisso. É bom tentar se concentrar nas batidas do coração e sentir que, de forma muito lenta o corpo vai relaxando, enquanto Morfeu chega para abraçar e acalentar o sofredor, até leva-lo ao mundo dos sonhos.

Enquanto muitos preferem esses locais silenciosos para uma reflexão, também existem os que escolhem esquecer tomando uma cerveja bem gelada na mesa de um bar. Afinal, o que pode ser mais saboroso do que uma cerveja estupidamente gelada depois de um dia exaustivo pensando nos cotovelos feridos? A cerveja e o bar tornam-se lugares ainda mais calorosos, quando o garçom já é conhecido de longas datas e pode-se falar com ele sobre a dor que lhe rasga o peito, sem qualquer vergonha ou receio de parecer
ridículo.

Um garçom amigo não é apenas um trabalhador que serve bem a um cliente. Ele é também além de amigo, confidente e depositário de muitos segredos e histórias pessoais, que não se contam a qualquer pessoa. Não é à toa que o garçom é o personagem principal em muita letra de música brega.

Para ser um bom garçom, não basta saber atender bem ao cliente e conhecer bem o cardápio do lugar onde trabalha. É preciso antes de mais nada ser um sujeito paciente e gostar de conversar. Em muitas ocasiões, o garçom vai fazer o papel de psicólogo e ouvir histórias de amor que não deram certo. Saber ouvir é um ato de bondade. Ele ainda vai ter que saber a hora certa de dar uma tapinha nas costas do cliente, que sofre com dor de cotovelo. Mas, o garçom bom mesmo, é aquele que não deixa o cliente
deitar no chão depois que ele já bebeu todas. O bom garçom chama um táxi para levar o cliente em sua casa e jamais esquece a célebre frase: “Tudo vai passar”.

Afora o cardápio, o bom garçom sempre deve ter à mão, um lenço de papel disponível para enxugar as lágrimas do cliente cuja dor de corno se tornou insuportável e ele, por mais que tente ser forte não aguenta e chora. Nesse momento, o cliente precisa de muita compreensão e que o garçom o torne a encher-lhe o copo. Existem garçons que são tão amigos, mas tão amigos, que até tomam uma cerveja com o cliente que chora copiosamente.

Existem vários remédios para curar a dor de cotovelo, mas cuidado para não confundir dor de cotovelo com problema de junta. Problema de junta se cura com anti-inflamatórios. Já a dor de cotovelo é mais grave, logo, sua cura é mais demorada. Primeiro de tudo é importante saber se o rompimento é definitivo, porque assim você evita sofrer à toa.

Se não tiver como retomar o romance, evite ficar muito tempo em casa pensando na pessoa que provocou a dor. Rasgue e queime todas as fotos, assim como quebre todos os discos que contenham músicas que lembrem a pessoa desalmada. Procure lembrar tudo de ruim que a pessoa lhe fez e depois vá para o bar e encha a cara. Fique de porre e chore. Se ao acordar do porre, você sentir que fez um papel
ridículo, não se preocupe.

Todo ser humano que se apaixona, se torna ridículo em algum momento. Procura uma agência de viagem e faça um bom roteiro de viagem. Viajar ajuda a esquecer e ainda aumenta a possibilidade de se aumentar o número de contatos na sua agenda. E quem sabe encontrar um novo amor. Dizem que um amor se cura com outro.

Se depois de tudo isto, você ainda continuar sofrendo, então seu caso não tem jeito. Você pode ser um corno contumaz. Seu caso precisa ser tratado com os Santos das Causas Perdidas como Santa Rita de Cássia, Santo Expedito, São Longuinho, São Judas Tadeu e Santa Filomena.