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Dos Gatos

Fundador de Navegos contempla uma das mais belas criações da Natureza, que impressionava Baudelaire, Guimarães Rosa, Lovercraft, T.S. Elliot e o próprio jornalista e escritor potiguar. Dono de um caminhar que navega sinuoso, de um olhar que evoca o silêncio dos mistérios: eis o gato.

*Franklin Jorge

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Os gatos possuem uma aura misteriosa.

São os companheiros prediletos dos escritores e dos artistas, como o café e os dias quando nada acontece.

Sempre os gatos me encantaram e despertaram o meu interesse e curiosidade infinita. Não tenho, porém, a abnegação de Amora Brayan, a Samaritana dos Pets, que renunciou a quase tudo para servi-los, contra as injúrias dos invejosos que se ressentem da consideração que goza essa mulher de fibra, protetora há mais de duas décadas de gatos abandonados ou em situação de risco, referência numa batalha sem termo, em cuidados e recursos. Perseguida pela advogada e oficial da Aeronáutica que já advogava, através de prepostos, sem ter se afastado do seu trabalho.

Os gatos inspiraram Charles Baudelaire. Teve em Tibério, um gato de pelagem negra, brilhante, um companheiro nos tempos do Hotel Pimodan, antes, a residência de uma família aristocrática. Decantou os felinos com refinamento e erudição. Notou-lhes a pelagem veludosa, o olhar de ágata e aço, e o ar seráfico.

Os gatos, que infundiam um temor reverente aos antigos egípcios, inspirou um dos mais intrigantes romances de língua francesa, no qual uma mulher e uma felina disputam o amor de um homem. Um livro que reli tantas vezes que esqueci de contá-las. Sempre os gatos encantam o homem. Esse livro curtíssimo, escrito em ritmo de paixão contida, tornou-se para mim uma dessas leituras inesquecíveis. Me lembro que era o livro predileto de uma grande escritora e mulher maligna que conheci, em minha mocidade inquieta e fatigada, e costumava dizer que apenas por este livro Colete se consagraria imortal.

Luísa Mercedes Levinson tinha oito gatos. Deitada em sua cama, tendo à volta seus felinos escrevia ou ficava durante horas, de olhos fixos no teto, pensando os contos que escreveria. A um deles, Pikitita, dedicou seu penúltimo livro publicado; a Pikitita, e ao resfriado que a manteve na cama durante alguns dias, pensando em Sumergidos, a curta novela que tem um rico musicômano que se preparava para receber, no meio da floresta, a visita de Eric Satie.