*Alexsandro Alves
Moisés passou quarenta dias e quarenta noites no monte. Ele deixou o povo sob os cuidados de seu irmão Aarão. Moisés ouvia vozes em seu cérebro, porém nunca via quem lhe falava. E sendo assim, porque assim fazem todos os ascetas, subiu o monte para jejuar e orar, para comungar com as vozes que ouvia. Ele sabia que não poderia ver ninguém. Conversando com seu irmão, afirmara que as vozes em sua cabeça era o grande mar da voz do Invisível, que nunca poderia ser representado e nem compreendido, apenas sentido. Como um pastor quando toca sua flauta e o rebanho escuta e o segue, mas não ver a música. Assim era o deus de Moisés.
Aarão, no entanto, ria do irmão dizendo: Como pode um deus que não se vê e que não se representa?
No monte, Moisés não viu ninguém, e por isso sabia, ou melhor, no seu coração ardia, a existência da perfeição da Ideia. Quando desejava falar com seu deus, o vento soprava e Moisés dizia: É ele!, outra vez, quando o vento não soprou, a terra tremeu, e o profeta, a cada vez que não via o seu deus, mais acreditava na sua existência. Se o visse, saberia que seu deus era uma farsa. E numa noite, num sonho, foi exatamente nas trevas de um sonho, que seu deus lhe falou: Você pensa em mim toda a hora! Eu sei que não me compreendes, por isso me compreendes em minha essência. Mas lhe darei poucas leis, apenas 10 leis, escritas com poucas palavras. Essa será a lei maior e será toda centrada no seu coração! E quando despertou, o profeta carregava apenas duas tábuas, com poucas coisas escritas, simples de entender e mais simples ainda de sentir. E a cabeça de Moisés era como a aparência de fumaça.
E ao descer para o povo, encontrou o povo adorando um bezerro de ouro. E disse para Aarão, seu irmão:
Que fizestes?
O povo ficou avexado e já não obedecia, precisava ver deus para ficar feliz. Perguntaram: como é o deus de Moisés que o fez subir o monte na espessura de um couro esticado de um tamborim? Por isso ordenei que trouxessem o mais puro ouro da terra para fazermos um deus. Olha! É de ouro puro! Representa o deus que vistes no monte?
D’us não se representa. Vocês não entendem? Ele está em todos os lugares do mundo, mas nenhum lugar do mundo leva até Ele, nem ouro leva, nem palavra leva. E me fazem um bezerro de ouro? Se esse ouro pudesse representá-lo, esse ouro seria destruído, bem como tudo nesse mundo assim seria, pois nada sensível pode conter a perfeição da ideia. D’us é Ideia.
Então explique para nós! Como deseja que adoremos o que não vemos?
Eu não o explico! Eu não posso explicar o que é poesia, da mesma maneira que uma forma não define a poesia, D’us, a Ideia, não tem forma. E não pode ser explicado, nem pode ser definido, nem pode ser aprisionado em uma palavra. D’us é o t’do e o n’da. E qualquer definição do mundo se destroçaria se tentasse contê-lo.
E diante do riso do povo, que não podia entender o que nasceu do não entendimento, Moisés quebrou as duas placas, e o povo disse:
Agora, escreva uma lei maior. Mais detalhada e nos diga quanto precisaremos matar, quanto precisaremos sacrificar, quanto precisaremos invadir e conquistar para agradar a Deus! Assim faremos e seremos uma nação santa e quem for contra Israel retornará à idade da pedra.