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É tudo fogo de palha

Colaborador de Navegos discute as agências checadoras de Fake News e ao fazê-lo põe no colo do leitor uma contradição.

*Franklin Serrão

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In memoriam de Olavo de Carvalho

O cristianismo tem um ensinamento puro, simples e significativo que atenta ao fato – e certamente isso é o diferencial do cristianismo entre as outras religiões – quando afirma que a verdade não pode ser encontrada dentro do indivíduo, mas fora dele. Parece óbvio que é impossível para um homem, por razões inúmeras, ter o conhecimento de tudo. Ou conhecer a verdade de todos os mistérios do mundo. Dentro de cada um existe apenas uma situação de que na melhor das hipóteses, podemos chamar de tédio de suas próprias ideias – as conhecidas ideias próprias.

Aquele que acredita no contrário dessa ordem, e tem uma convicção racional que sim, pode conhecer a verdade a partir de si, de fato está mais próximo da loucura do que se imagina. ” O louco está na prisão limpa e bem iluminada de uma ideia.” costumava citar G. K. Cherterton.

Se a pretensão humana de querer ser Deus a partir de sua razão é raio de loucura, então o que dizer, quando lhe falta razão e a sua cobiça e orgulho se pauta numa ideologia? – que é a razão (ideia) de outra pessoa.

Então se o cristianismo é produto do senso comum da fé, o que podemos dizer de seus críticos pautados pelo senso (in)comum de ideias bem iluminadas?

Para responder isto, e já deu para perceber que estamos falando de progressismo, vou pegar como exemplo as agências de Fact Checking – outro grande flow da modernidade.

De caráter progressista, essas agências tem a pretensão, bem recheadas de boas intenções, de apontar a verdade nas notícias, memes ou outra coisa que se expresse. A motivação maior é combater a mentira que na modernidade é chamada de fake news.

Imagine! a verdade vista por algo, que pelo seu caráter progressista, nega a existência da verdade relativizando-a quando elege narrativas como martelos na verdade. Que loucura! Isso sem lembrar que algumas delas são opositores do governo e dos conservadores.

Platão dizia que a virtude sem sabedoria não passa de fantasia.

Muitas vezes o indivíduo querendo ser virtuoso sem conhecimento, acaba sendo mais nocivo do que se imagina. Por pura fantasia e romantismo, quantos jovens se perdem entre ideologias e começam a fazer o mal achando que são o bem da causa?

A exemplo disso, a esquerda agora no topo de seus devaneios acha que pode ser virtuosa mesmo sendo mentirosa — pois essas checagens das agências erram e muito — ainda costumam replicar explicações de governos através de suas notas oficiais. Um paradigma. Mas isso não nos surpreende, e de modo até sabemos que o jogo não é pela verdade.

O professor Olavo de Carvalho nos ensina quando diz que:  “(…) toda e qualquer comunicação humana se baseia não na expressão direta do verdadeiro, mas na expressão do seu contraste com o falso.” Ou seja, para que haja um diálogo, deve haver um mínimo de senso comum entre os indivíduos. Pois o que se percebe, poderá ser entendido. O falso não se sustenta pois não comunica. O falso se vale de artimanhas como sedução, distração, cobiça. Coisas que no fim, perdem forças e apenas cumprem função, de um contraste com o verdadeiro como diz Olavo. A falsidade é somente uma pequena parte opositora às coisas verdadeiras. Para existir o falso ele precisa se valer de verdades para serem corrompidas.

Imaginem um cidadão fofoqueiro que costuma difamar seu vizinho com todo o tipo de fofocas. A princípio as pessoas vão tomar aquilo como fato, mas depois de algum tempo, as pessoas movidas pela curiosidade gerada, vão querer saber detalhes e de modo será questão de tempo até descobrir as mentiras do fofoqueiro. No fim das contas o vizinho da fofoca vai obter o efeito contrário em tudo.

Igualmente, as agências de Fact Checking vão facilitar nosso trabalho; tal qual o fofoqueiro da nossa história.

Essa fantasia confortável e bem iluminada que aprisiona mentes, seja na fofoca ou na falsidade, apenas revelará uma verdade do ambiente ou das vontades virtuosas dos que estão assim prisioneiros.