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Eis os bem-te-vis de Helena Monteiro

O livro “O canto dos bem-te-vis” é uma leitura leve e marcante, por suas cores tranquilas e sua voz sempre suave. É um livro que marca através da delicadeza e nunca perde seu tom confiantemente tranquilo.

*Alexsandro Alves

[email protected]

 

Que tempo levemente agradável a leitura de O canto dos Bem-te-vis, de Helena Monteiro, trouxe.

Os seus versos são delicados, possuem uma placidez e nunca são agressivos, mesmo quando parecem ser. A autora sustenta um longo fio de tranquilidade que amarra suavemente, imperceptível, o nosso prazer.

Eu tive a sensação de estar sempre sorrindo ao lê-lo porque a autora sabe criar inquietações que são, sempre, felizes, em qualquer aspecto.

Helena Monteiro pensa com o coração. Seu sangue fluindo entrega uma cantiga muito contemplativa.

Não existem perturbações exteriores nesse livro, a autora tem uma concentração, como se cantasse uma longa canção de um só fôlego.

Geralmente um livro é sempre dividido em capítulos ou partes. Nesse, essa divisão é muito tênue, dá para marcá-la?

Conseguimos. Mas é algo que a autora não desejou fazer – ao menos abertamente.

Porque cada aparição dos bem-te-vis, nas páginas coloridas, demarca uma mudança no olhar da poetisa. Quem sabe por aí seja possível dividir o livro.

Porém, lê-lo de um só fôlego não apenas é mais coerente como também acompanha uma diretriz interna dele.

E por que interromperíamos a tranquilidade que canta como aves canoras ao pé dos nossos devaneios?

É difícil hoje encontrar um livro assim, tão compromissado com a leveza e, ao mesmo, com algo a dizer.

A leveza de Helena Monteiro nos faz pensar ao mesmo tempo em que contemplamos, como alguém que nos contasse histórias e nós, já imersos na mansidão de seu ser, apenas a ouvíssemos sem nada falar, para não quebrar a melodia, para permitir que as imagens continuem, delicadamente, presentes.

São imagens da natureza sempre imersa em sons. É esse o elemento que mais fascina a autora: o som. E som atrai silêncio. Essa é a nossa parte.

Deixemos que ela fale dos bem-te-vis, que seu poema vibrato da carne borde nos lençóis de nossa alma as mais imprecisas recordações.

E as melodias que os bem-te-vis gorjeiam, dos leitos dos rios, dos leitos maternos, dos leitos vazios…

Está tudo nas notas que Helena Monteiro conseguiu entender das aves!

 

FICHA TÉCNICA:

O canto dos bem-te-vis, de Helena Monteiro, poesia, 87pp, Natal, Offset, 2021.